A AVIAÇÃO EM LORENA – Traços Históricos - uma resenha
Por Arnaldo Chieus*
O livro A Aviação em Lorena: Traços históricos, de Cesar Rodrigues, faz uma análise do surgimento da
aviação em Lorena, SP, resgatando os traços históricos desde a memorável aventura de Anésia
Pinheiro Machado em 1922 quando esta fez um sobrevoo sobre Lorena em seu pioneiro reide
aéreo de São Paulo ao Rio de Janeiro, nas comemorações ao Centenário da Independência do
Brasil. Por se tratar de um trabalho com vista à contribuição dos registros
históricos relativos aos feitos de natureza aeronáutica, o autor optou por dividir a evolução
histórica da aviação em Lorena em três fases, a partir da construção da pista de pouso que
serviu às tropas paulistas na Revolução Constitucionalista de 1932; a Escola de Pilotagem do
Aeroclube e a aviação comercial e, finalmente, o uso do aeródromo para aeronaves que faziam
a rota Rio-São Paulo, como a Esquadrilha da Fumaça. Na década de 1930, Lorena, como as demais cidades do Vale do
Paraíba, passou a ser região estratégica para as tropas paulistas que lutavam contra as forças
federais. Na área que seria futuramente implantado o Horto Florestal foi construída uma
pista de pouso, em apoio à Aviação Constitucionalista.
A Base Aérea e o Canteiro de Mudas
O Campo de Aviação transformou-se em Base Aérea para as Forças
Constitucionalistas e a pista um dos principais pontos de apoio à Aviação, juntamente com Guaratinguetá e Taubaté. Esse campo, criado inicialmente para servir como Canteiro de Mudas,
transformou-se no primeiro Campo de Aviação de Lorena, construído por voluntários, em
1932, ao lado da Estrada de Ferro Central do Brasil, sendo um dos principais pontos de apoio às operações de aviões e um dos
principais pontos de apoio às operações de aviões no município de Lorena.
A partir desse evento histórico o autor registra as importantes
operações aéreas paulistas realizadas na então chamada pista do Horto Florestal e a
mobilização do efetivo para barrar o avanço das tropas federais no Vale do Paraíba e na frente
mineira. Finda a Revolução Constitucionalista com a assinatura do armistício, o Campo de
Aviação passou a servir às aviações do Exército e da Marinha para a realização de manobras.
O livro é de uma excelente riqueza no registro da evolução histórica
e social da cidade de Lorena resgatando e registrando os mais significativos momentos da
aviação e sua importância no cenário histórico de Lorena.
Manobras militares
A situação geográfica de Lorena mostrou seu grande valor
estratégico e geopolítico para abrigar as forças militares paulistas para barrar o avanço das
tropas federais no Vale do Paraíba e na frente mineira. E o campo de aviação foi um ponto de
pouso e decolagem além de camuflar as aeronaves paulistas que ali estacionavam. Dessa
forma a contribuição lorenense foi também fator pendular para o fim do conflito e assinatura
do armistício pondo fim à Revolução Constitucionalista.
O campo de aviação continuou em operação e em 1940 contou
com um Centro de Operações para servir às manobras militares das
aviações do Exército e da Marinha. Por várias ocasiões o local foi escolhido para que nele
fossem passadas em revista as tropas pelo presidente da república Getúlio Vargas e seu
ministro da guerra general Eurico Gaspar Dutra.
O Aeroclube de Lorena e a aviação comercial
Hangar do Aeroclube de Lorena |
A grande movimentação de aeronaves e pilotos na cidade de
Lorena associada a uma intensa campanha de incentivo à campanha nacional de aviação foi o
incremento para mobilizar a fundação de um aeroclube.
O autor nos traça as principais momentos do aeroclube desde sua
fundação com a descrição das principais aeronaves, pilotos e instrutores. Amparado em
depoimentos, levantamento de jornais da época e amplo registro fotográfico a trajetória do
aeroclube e sua diretoria nos é desenhada num panorama histórico, dando conta de sua
importância na região do Vale do Paraíba.
DC3 Douglas Dakota que operava na rota Rio-Lorena-S. Paulo |
O autor também faz em seu relato o importante registro da aviação
comercial em Lorena. A empresa aérea TAL – Transportes Aéreos Limitada – entre os anos de
1948 fazia a rota Rio-São-Paulo e a cada dois dias pousava, desembarcava e embarcava
passageiros e decolava com duas aeronaves empregadas no percurso.
A Esquadrilha da Fumaça na rota de Lorena
O antigo Horto Florestal, hoje Floresta Nacional de Lorena, onde em
suas margens surgiu o primeiro campo de aviação é hoje um símbolo na proteção da mata
atlântica remanescente. Por diversas ocasiões a Esquadrilha de Demonstrações Aéreas esteve
em Lorena fazendo suas demonstrações sobrevoando o Horto Florestal. Laços efetivos e
fraternos ligavam os integrantes dos “fumaceiros” com os lorenenses. Shows programados e
eventuais aconteciam sempre muito concorridos. Isso ocorreu até 1973 quando o aeródromo
viria a ser fechado.
Grandes pilotos acrobatas visitaram Lorena em diversas
oportunidades registrando-se principalmente a passagem de Alberto Bertelli, o primeiro piloto
honorário da Esquadrilha da Fumaça e de Arthur Braga, outro mito da acrobacia aérea
brasileira.
Uma trilha na história
Voluntários produzindo os marcos alusivos às visitas dos presidentes Vargas e Dutra ao aeródromo de Lorena |
Uma placa num marco histórico da Floresta Nacional de Lorena
registra os principais fatos históricos no Campo de Aviação de Lorena. Do antigo hangar restam
ruínas. Somente a memória afetiva do autor foi capaz de recompilar esse painel de relatos que
resgatam os traços históricos das atividades aéreas em Lorena. Do extinto aeroclube restam apenas as
paredes que serviam como quadro para as orientações que os comandantes passavam para as
tropas. O tempo passou e aquele menino que brincava de montar avião
transformou-se no piloto e controlador de trafego aéreo, jornalista e historiador dos feitos de
um tempo onde a cultura aeronáutica estava vivamente presente. O livro é um relato que registra a trajetória da aviação em Lorena e sua importância no contexto histórico. Das antigas ruínas do aeroclube e seu hangar surgiram uma trilha
ecológica e um sítio histórico com os marcos alusivos às visitas dos presidentes Getúlio Vargas e
Gaspar Dutra. E a Floresta Nacional que a tudo esteve sempre presente.
*Arnaldo Chieus é professor, advogado, entusiasta da aviação e membro do Conselho Gestor
do Instituto Salerno-Chieus
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