ISC - Idealizado em 1993, o Instituto Salerno-Chieus nasceu como organismo auxiliar do Colégio Dominique, instituição particular de ensino fundada em 1978, em Ubatuba - SP. Integrado ao espaço físico da escola, o ISC tem a tarefa de estimular a estruturação de diversos núcleos de fomento cultural e formação profissional, atuando como uma dinâmica incubadora de empreendimentos. O Secretário Executivo do ISC é o jornalista e ex-prefeito de Ubatuba Celso Teixeira Leite.
O Núcleo de Documentação Luiz Ernesto Kawall (Doc-LEK), coordenado pelo professor Arnaldo Chieus, organiza os documentos selecionados nos diversos núcleos do Instituto Salerno-Chieus (ISC). Seu objetivo é arquivar este patrimônio (fotos, vídeos, áudios, textos, desenhos, mapas), digitalizá-los e disponibilizá-los a estudantes, pesquisadores e visitantes. O Doc-LEK divulga, também, as ações do Colégio Dominique.

LEK - Luiz Ernesto Machado Kawall, jornalista e crítico de artes, é ativo colaborador do Instituto Salerno-Chieus (ISC) e do Colégio Dominique. É um dos fundadores do Museu da Imagem e do Som de São Paulo e do Museu Caiçara de Ubatuba.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

FOLIA DE REIS

Texto
Arnaldo Chieus

Dentro do ciclo de festas da religiosidade expressas no catolicismo popular, a Folia de Reis é aquela que comemora o nascimento de Jesus Cristo. Essa festa faz parte de uma tradição popular originária na Europa que foi introduzida em Portugal por volta do século XIV e que sempre esteve associada à devoção religiosa do ciclo natalino comemorada com música folclórica e festas populares. O português que colonizou o Brasil veio com todo um precioso acervo acumulado de séculos de cultura, civilização e contatos com os mais diversos povos. Em sua bagagem, a saudade é uma das principais responsáveis pela sua energia, coragem e capacidade de permanecer nos horizontes distantes. [1]

“Em Portugal, a Folia de reis tinha como finalidade o divertimento do povo. Durante o seu transcorrer, os grupos batiam às portas das famílias, onde eram abertas as chamadas salgueiras, depósitos de mantimentos, pois nessa época, na Europa, é inverno. Ao chegar ao Brasil, a Folia de Reis adquiriu um sentido mais religioso do que profano.” [2] 

“Parece que a denominação “folia” apareceu, primeiro, em Portugal, para designar uma dança barulhenta, com acompanhamento de pandeiros. A mais velha referência portuguesa é de Gil Vicente. Em seu “Auto da Sibila Cassandra”, ele apresenta uma écloga de 1505, na qual os personagens cantam uma “folia”. E a primeira música com esse título, segundo o “Grove’s Dictionary” foi encontrada em Salinas (“De Música Libri semptem”, 1577), em duas versões”.[3]

O colonizador português trouxe para o Brasil diversas tradições associadas à religiosidade popular católica entre a quais aquelas ligadas ao ciclo de devoção natalino. 

Com o tempo essas práticas ganharam corpo e se espalharam por uma vasta extensão do território, ganhando adeptos e linguagens próprias em cada região. 

Em todo o Estado de São Paulo é muito grande a devoção aos Santos Reis, que se expressa na multiplicidade de um complexo de manifestações dentro do Ciclo de Natal, geralmente sincretizando alguns componentes do catolicismo oficial com outros folguedos do folclore local, tornando-os diferentes e peculiares em relação às diversas versões de Reisados de outros estados e regiões do país. 

Conforme Francisco Pereira da Silva, “a Folia de Reis (que não há que se confundir com a do Divino)... é uma das mais bonitas manifestações da alma popular do nosso folclore natalino. Trata-se, em linha geral, de um grupo religioso (no sentido extra-oficial) que, em visitação aos lares da sua comunidade contrafaz a peregrinação dos Reis Magos em demanda do menino-Deus recém-nascido na manjedoura de Belém. De 24 para 25 de Dezembro, no instante neutro da meia-noite, entra a Folia em função. Termina a 6 de Janeiro, Dia de Reis. Mas, excepcionalmente, prolonga-se até Nossa Senhora das Candeias. Isto é, 2 de Fevereiro, que tem a denominação poética de “Candelárias”. O povo é um amor.” 

Entre os caiçaras de Ubatuba “a devoção ao Santo Reis se comemora com cantorias e peregrinações durante todo o ciclo de Natal, que vai desde o início de dezembro até fins de janeiro e possibilita encontros de músicos dos diferentes bairros. Como acontece com a devoção ao Divino, o Santo Reis é considerado como entidade única. Embora saiba da existência dos três reis magos que visitaram o presépio, o caiçara (e mesmo o caipira do interior) a eles não se refere, e a devoção aos reis não está ligada a imagens. O devoto antes os transforma num único santo, sem imagem identificadora, e proclama:”

- “o santo reis é um santo muito milagroso.” 
(Kilza Setti, p. 258/259) 

Esse caráter milagroso das folias está associado ao seu período de peregrinação, organizada geralmente em conseqüência de uma promessa, seja esta feita pelo seu mestre ou por um de seus componentes, que têm entre si alguma relação de parentesco ou amizade. E pelos laços da promessa os componentes da folia assumem entre si o livre compromisso de empreenderem a jornada dos Reis por um período de sete anos. Para que um folião de Reis se considere desincumbido de suas funções com a folia é necessário que ele cumpra a jornada completa dos sete anos de Folia, o que poderá ser feita de forma contínua ou não. Depois de cumpridos os sete anos os foliões estão desobrigados com a folia podendo passar a sair à vontade, neste ou naquele ano, a menos que façam novas promessas. (Folias de Reis, Zaide Maciel de Castro e Araci do Prado Couto – Folias de Reis – Revista do Arquivo Municipal – CLXV – 1959). 

Quanto às promessas, essas quase sempre são feitas no intuito de obter-se o restabelecimento da saúde do próprio promesseiro ou de alguém efetivamente a ele ligado, geralmente um parente próximo. A promessa também tem a duração de sete anos, o mesmo tempo da jornada ou peregrinação da Folia e sua renovação, quando ocorrer, se dá em múltiplos desse número. 

Como ocorre com a Folia do Divino, os agrupamentos de foliões e devotos são designados por Folia de Reis. Seja por devoção, gosto ou função social, peregrinam de casa em casa no período compreendido entre 24 de dezembro (véspera de Natal) até 6 de janeiro (Dia de Reis) com cantadores e instrumentistas entoando versos e cantorias com fundo religioso cumprindo sempre uma ritualística pré-estabelecida. Os versos têm início com o tema da Profecia do nascimento do menino Jesus até a visita dos Reis Magos.

Conforme Alceu Maynard Araujo, “a folia se reveste de um caráter sagrado, são os representantes dos reis magos visitando os devotos, havendo um ritual de visitas e reverências nas casas onde há presépios. Na cantoria os versos giram em torno deste temas: anunciação, nascimento, estrela-guia, Reis Magos, adoração, ofertório, agradecimento e despedida”.[4]

Os figurantes da folia são chamados, em conjunto, foliões, mas, havendo necessidade de especificar, dividem-se em foliões e palhaços. Os primeiros, uniformizados, são cantores e músicos e, durante a jornada, marcham a passo descansado em formação militar, acompanhando a bandeira. Os segundos são principalmente dançarinos e cômicos, ficam em segundo plano em relação aos foliões, sofrem uma série de restrições que serão estudadas a seu tempo, mas vestem-se do modo que desejam e cantam chulas à sua vontade, quando chega a sua vez. 

Se para alguns membros ou acompanhantes da Folia de Reis a sua devoção está associada ao cumprimento de uma promessa, para outros ela pode significar um devotamento essencial ou, em outros casos, simples divertimento. Evidentemente que todos os seguidores, sejam os contínuos  ou esporádicos, sempre cumprem uma determinada ritualística que é fixada pela própria Folia. Importante ressaltar que a Folia, por ser dinâmica na sua peregrinação, nem sempre permite ao devoto ou seguidor estar presente em todo seu trajeto. Por isso é comum nas Folias que percorrem nosso extenso e recortado litoral ter um grupo de foliões fixos, geralmente o versista principal e alguns músicos. 

O versista é na maioria das vezes o mais experiente dos componentes da folia quer pelo seu caráter gregário para arregimentar seguidores quer pela sua capacidade de memorizar e improvisar versos. 

“No litoral norte de São Paulo, “Reis” e mais raramente “Folia de Reis”, e também “Reisado” o grupo de instrumentistas e cantadores que, durante a noite, costuma entoar, de porta em porta, versos relativos à visita dos Reis magos ao Menino Jesus e, inclusive, à Paixão de Cristo, em busca de ofertas que são usufruídas pelos próprios e as quais podem se resumir num simples café.” 

Muito embora a Folia de Reis tenha personagens próprios, composto por mestre e contramestre, os três reis magos, palhaços e foliões, no caso das Folias que percorrem Ubatuba não temos a ocorrência dos palhaços uma vez que a bandeira de Reis, entre os caiçaras, tem espírito basicamente devocional. 

Como toda tradição folclórica, a Folia de Reis vive e sobrevive em Ubatuba como sempre viveu, ou seja, em constante e dinâmica ruptura com o rito tradicional. Tanto o toque quanto o ritmo, a composição dos versos e seu canto, e a própria composição de seus quadros apresenta uma diferença marcante, diferenciando-a daquela que se apresenta no interior do estado. 

Há que se acrescer a isso o fato de que a cidade de Ubatuba, nos dias de hoje, possui uma dinâmica completamente diferenciada, alterada pelo grande fluxo de migrantes, principalmente daqueles egressos do norte de Minas Gerais e da região nordeste. E o folclore desta região do litoral caiçara paulista, que é tradição e também e principalmente assimilação, sofre com isso um processo de constante ruptura. Essas rupturas, muito embora tênues posto que imperceptíveis ao neófito, vão se acrescentando silenciosa e naturalmente aos entrechos da linha devocional caiçara. Porém alguns pontos da Folia ainda permanece fiel ao formato tradicional. 

Segundo Odaci Araújo, filho e neto de cantadores de Reis, em época não tão recente (1950) ocorreu uma divisão dos Reis em dois grupos: um deles, mais chegado às festas, que terminava sua cantoria em baile; outro, estritamente religioso, encerava no Reis uma verdadeira pregação. Esses fatores dizem respeito mais exclusivamente ao aspecto social que envolvia os respectivos grupos. 

E muitas são as histórias que ligam o caiçara com a devoção e às jornadas dos Reis, a que alguns dão o nome de voto, significando o convite a amigos e companheiros para cantarem juntos a Folia dos Santos Reis. 

A esse respeito Catarina de Oliveira Prado nos contou de viva voz que ao tempo de seu pai, em sua casa, no Perequê-Açú, nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro realizava-se uma devoção com os Santos Reis devido a uma pescaria que ele foi fazer e à qual foi estipulada uma promessa aos Santos Reis. Segundo a tal promessa, se tudo corresse bem ele prestaria homenagem cantando nas festas de reis. À época da promessa, seu pai, que era funcionário público do grupo escolar, então a única escola de Ubatuba, teria sido convidado por alguns companheiros para cantar o Reis, mas, ao invés disso, ele, que gostava muito de caçar e pescar, ao invés de atender ao convite dos amigos, resolveu “botar tróia” respondendo aos amigos: “vou matar alguns peixes para vender e sustentar a família”. Ocorre na pescaria ele sofreu um acidente sendo ferido pelo esporão caudal de uma raia, o qual produziu profundo e doloroso ferimento em sua perna. Socorrido, foi trazido para a cidade onde foi tratado pelo Luiz do Bico o qual foi, “no último quartel da sua vida o coronel Luiz Domiciano da Conceição, prestigioso chefe político do município, merecendo, por seus méritos a perpetuação do nome numa das ruas da cidade” [5]

Pois bem, já tratado, arrependeu-se e prometeu, se ficasse bom, no ano seguinte iria fazer o voto e a devoção aos Santos Reis todo dia 6 de janeiro. Daí por diante, de 1º de dezembro a 6 de janeiro sua casa era toda festa, com aquele povaréu todo, baile, instrumentos de corda, cavaquinho, pandeiro, rabeca... 

Já para Priscila Siqueira, jornalista radicada em São Sebastião, “o Reisado Caiçara é uma espécie de serenata, cantada sempre à noite, e seus participantes não saem caracterizados. No Reisado do Litoral não se pode acender as luzes ou abrir as portas das casas enquanto o grupo de reis está cantando. Nesta manifestação popular, a rabeca, um instrumento muito importante, é normalmente tocada pelo líder do grupo. Como na Folia de Reis, os participantes do grupo de Reisado consideram a música e seus versos verdadeira oração.[6] 

Ocorre que os grupos são montados por volta da época da data católica do Advento formando-se a partir de então uma peregrinação passando alegremente pelas casas levando a “cantoria de reis”. 

De “Os Caiçaras Contam” [7] 
recolhemos os seguintes depoimentos:

“Nasceu Jesus, nasceu Nosso Senhor. 
Nasceu Jesus, nessa noite de amor. 
Nasceu Nosso Senhor, nasceu Jesus. 
O mundo inteiro todo cercado de luz.” 
Versos da Folia de Reis, cantados por Orlando Antonio de Oliveira, 77 anos. 

O folclorista caiçara José Ronaldo recolheu do grupo da praia do Sapé a letra abaixo transcrita: 
1. Ó de casa cavalheiro/ Diga se eu posso entrar/ Se houver algum agravo/ Aí diga que eu quero voltar. 
2. Viemos cantar o rei/ Hoje mesmo que é devido/ Viemos trazer notícias/ Ai de Jesus nascido. 
3. Os três reis encaminharam/ Pelas partes do Oriente/ Chegam na corte de Herodes/ Ai perguntaram de repente. 
4. Onde era nascido/ O verdadeiro Messias/ Rei Herodes respondeu/ Ai eu vou ver na profecia. 
5. Lá na profecia reza/ Que era nascido em Belém/ Ides lá e voltais aqui/ A que eu quero ver também. 
6. Herodes que nem malvado/ Que nem perverso, maligno/ Foi ensinar aos três reis/ Ao as avessas do caminho. 
7. Viagem que era de um ano/ Fizeram em quinze dias/ Porque foram bem guiados/ Ai pelo infante rei-Messias. 
8. Atrás daquela cabana/ Uma estrela aparecia/ Era neto de Sant'Ana/ Ai filho da Virgem Maria. 
9. São José quando se viu/ Entre nobres companhias/ De prazer e de alegria/ Ai não sabia o que fazia. 10.Vinte e cinco de dezembro/ De meia noite pro dia/ Nasceu o menino-Deus/ Ai filho da Virgem Maria. 11.Eu não vos peço ofertas/ Que são coisas de valia/ luz acesa e porta aberta/ Ai e afeição de alegria. 
12.Ó senhor que estais dormindo/ Nesse seu colchão dourado/ Vinde nos abrir a porta/ Ai que aqui estão vossos criados.[8]

Os temas relativos à profecia do nascimento do Menino Jesus sofre variações em face diversos fatores sejam eles de ordem geográfico ou aqueles relativos à capacidade de memorização e à de improvisação do verista que associa variações ao tema central, essencialmente religioso, outros motivos, sejam líricos ou amorosos

 OUTRAS FORMULAÇÕES

Uma tradição centenária da idade do Casarão do Porto 
Folheto distribuído pela Prefeitura Municipal de Ubatuba por ocasião da Folia de Reis/década de 80 

Diz Odaci de Araújo, filho e neto de cantadores de Reis, que foi Baltazar da Cunha Forte quem trouxe para Ubatuba, aproximadamente em 1830, mão de obra mineira para construir sua casa (hoje tombada pelo Patrimônio Histórico e chamada de Sobradão ou Casarão do Porto). Com esse pessoal reviveu-se o costume de cantar ao som da viola, depois do trabalho, várias cantigas e entre elas o Reis (dançava-se também a folha verde, o xiba e outras danças folclóricas). 

Unindo-se com gente da Praia da Fortaleza (ao sul), do Poruba e da Picinguaba (ao norte) e até mesmo de Paraty, vindos a Ubatuba nos tempos áureos do café em busca de trabalho, iniciaram um canto aos Reis baseado no mineiro. Com algumas alterações, ele é entoado até hoje na região.

Mais recentemente (1950) é a divisão dos Reis em dois grupos: um mais chegado às festas, que terminavam a cantoria em baile; outro estritamente religioso, que encarava o Reis como uma pregação. 
Os instrumentos musicais utilizados pelos dois grupos eram quase os mesmos, sempre feitos por aqui e Odaci cita o nome de Benedito Carros como fazedor de viola e rabeca (nome dado ao violino), em nogueira. Para acompanhar o Reis entoado no Centro (religioso), tocava-se viola, rabeca, pandeiro e reco-reco de bambu. O Reis da chamada Rua Nova, mais festeiro, era acompanhado por viola, rabeca, pandeiro, reco- reco e cavaquinho. 
Hoje se usa violão, cavaquinho, clarinete, pandeiro e bumbo. E continua a tradição do “tipe” ou “tripé”, cantor que faz uma voz fina junto aos instrumentos, nas estrofes intermediárias, sem letra.
Como é tradição em todo lugar onde se cantam as Folias (de Reis ou do Divino), os cantadores são recebidos nas casas que visitam com comida e bebida, de preferência não alcoólica. Cantar aos Reis é obrigação que dura sete anos, geralmente iniciada para se alcançar uma graça. 

DUAS LETRAS PARA O MESMO REIS

Há duas letras de Canto de Reis. Uma, mais antiga, não tem autor conhecido e ela tem passado através das gerações. Ela diz o seguinte:
Ó de casa, ó nobre gente
Diga que vos ouvireis 
Uma cantiga excelente 
Que se canta pelos Reis. 

Padeceu nosso Jesus 
Foi arrastado                     Bis
E pregado na cruz 

Os três Reis quando vieram 
Lá da parte do Oriente 
Chegaram à porta de Herodes 
Perguntaram de repente. 

Padeceu nosso Jesus...
 
Aonde era nascido 
O verdadeiro Messias 
Rei Herodes respondeu 
Que ia ver nas profecias. 

Padeceu nosso Jesus... 

Que nas profecias reza 
Era nascido em Belém 
Se fores lá, voltai aqui 
Que eu quero ir ver também. 

Padeceu nosso Jesus...
 
Os três Reis lá do Oriente 
Se puseram em jornada 
Foram dar com Cristo em Roma 
Às horas da madrugada. 

Padeceu nosso Jesus... 

Detrás daquela cabana 
Uma estrela aparecia 
Era o neto de Santana 
Filho da Virgem Maria
Padeceu nosso Jesus... 

Jesus Cristo foi nascido 
No presépio de Belém 
Para todo o sempre, amém. 

FOLIA DE CANTO AOS REIS 

Uma segunda letra da Folia de Reis usa a mesma base da primeira, mas recebeu versos novos há cerca de 30 anos, feitos por Manoel Barbosa, cantador de Ubatuba que passou para seu filho a preocupação de manter vivo no município o costume; o rapaz, conhecido por Mané Babirro, saiu com a Folia até 1983, quando faleceu. Há um novo grupo se apresentando em público, com a intenção de preservar as tradições folclóricas locais.

Ó de casa. Ó nobre gente 
Acordai e ouvireis 
Estes cânticos excelentes 
Que se canta pelos Reis 

Aleluia, Jesus nasceu 
O mundo inteiro 
Da luz se encheu 
Adoramos o Salvador 
Vem nos traze 
Paz e amor. 

Os três Reis quando vieram 
Lá das bandas do horizonte 
Chegaram à porta de Herodes 
Perguntaram de repente 

Aleluia, Jesus nasceu...

Aonde era nascido 
O verdadeiro Messias 
Rei Herodes respondeu 
Que ia ver nas profecias 

Aleluia, Jesus nasceu... 

Nas profecias constava 
Que nascera em Belém 
Ide lá, voltai aqui 
Que eu quero 
Ir ver também. 

Aleluia, Jesus nasceu... 

Em Belém cantaram os galos 
Jesus Cristo já nasceu
 Os anjos cantam hosanas 
E o céu resplandeceu.

 Aleluia, Jesus nasceu. 

O mundo inteiro 
De luz se encheu
Adoramos o Salvador
Vem nos trazer Paz e amor...

Notas:
1 Dante de Laytano – Origens do Folclore Brasileiro – Cadernos de Folclore nº 7, Rio de Janeiro, 1968. 
2 Thereza Regina de Camargo Maia – Paraty religião e folclore 
3 Thereza Regina de Camargo Maia – idem 
4 Folclore Nacional Festas Bailados Mitos e Lendas. Alceu Maynard Araujo. Edições Melhoramentos, 1964.
5 Oliveira, Washington de. A Farmácia do Filhinho. Ubatuba. 1989.
6 Priscila Siqueira, “Crianças comandam a Folia de Reis”, in O Estado de São Paulo, 09/JAN/1982. 
7 Marcos Frenette, “Os Caiçaras Contam”, Publisher /Brasil, /São Paulo, 2000.
8 Cantiga dos Santos Reis - Crônica do Zé - Jornal “A Cidade”, 22/23 de março de 2014 

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

São José de Anchieta

Fragmentos de sua vida em Ubatuba, a pacificação dos índios e o poema de exaltação à Virgem Maria

Por: Arnaldo Chieus



Apresentação

Este trabalho do Colégio Dominique (Ubatuba, SP) e do Instituto Salerno-Chieus é mais uma das atividades da Biblioteca Hans Staden, criada em agosto de 1989. 

Esta apostila é um resumo elaborado a partir de notas de leitura que se constituíram numa comunicação oral, em abril de 2023, destinada a professores da rede municipal de ensino de Ubatuba (SP), durante atividade pedagógica de instrução continuada patrocinada pela agência local do banco SICREDI. Versa sobre aspectos da vida de São José de Anchieta, especialmente do tempo em que viveu na orla de Ubatuba, em 1563. Neste período se discutia o acordo de paz entre dois grupos: o primeiro, formado por nativos tupinambás e demais tribos da Confederação dos Tamoios, aliados dos franceses estabelecidos na baía da Guanabara; o segundo, os tupiniquins, aliados dos colonizadores portugueses. Do trabalho do padre José de Anchieta, em parceria com o padre Manuel da Nóbrega, resultou o fim das contendas, graças ao estabelecimento do primeiro tratado de paz das Américas, denominado Paz de Iperoig, em 14 de setembro de 1563.

São José de Anchieta

Padre José de Anchieta, canonizado como São José de Anchieta pela Igreja Católica Apostólica Romana, viveu em Ubatuba, na aldeia Iperoig, no ano de 1563. Naquele ano, juntamente com o padre Manuel da Nóbrega, intermediou a pacificação dos índios locais, os tupinambás. Os canibais nativos, associados a franceses que ocupavam o Rio de Janeiro, com o nome de França Antártica, rivalizavam com os colonizadores portugueses. Os tupinambás dominavam o litoral entre Bertioga e Cabo Frio. 

Em Ubatuba, aonde chegaram procedentes de Itanhaém e Peruíbe, logo após o período de quaresma do calendário religioso, os dois sacerdotes prepararam um protocolo para por fim às hostilidades entre portugueses e tupinambás e seus aliados franceses. 

Para chegarem a Ubatuba, Anchieta e Nóbrega, foram transportados, entre os dias 18 de abril e 06 de maio de 1563, por embarcações do amigo José Adorno. A expedição marítima foi capitaneada pelo próprio Adorno, para que os padres tivessem a oportunidade de parlamentar com os chefes tupinambás e negociar a paz definitiva com os portugueses. 

Tratado de paz 

O Armistício de Iperoig ou Paz de Iperoig foi o primeiro tratado de paz nas Américas e foi ratificado em 14 de setembro de 1563. Para que as conversações se frutificassem, José de Anchieta se dispôs a ficar em Ubatuba, como refém dos indígenas, enquanto Manuel da Nóbrega e um filho do cacique Cunhambebe, líder regional dos tupinambás, seguiam até São Vicente, a fim de definirem as negociações de paz entre os nativos da Confederação dos Tamoios e os portugueses. 

Enquanto esteve em Ubatuba, escreveu, nas areias da praia a sua principal obra, o Poema à Virgem. O título original era “De Beata Virgine Del Matre Maria”. São 5.786 versos em latim. Segundo a tradição, ele rascunhou a obra nas areias de Ubatuba e memorizou os versos para, mais adiante, em São Vicente, passar para o papel. 

A Confederação

A Confederação dos Tamoios (cujo significado é “antepassados”) era um agregado de forças. A coalizão foi definida na localidade de Mangaratiba, no litoral fluminense, reunindo os chefes Aimberê, da aldeia de Ubatuba (Uwatiby)*, Pindobuçu, de Iperoig, Koaquira e Cunhambebe, de Ariró, e Guayxará, de Taquarussu-tyba. 

Sob a liderança de Cunhambebe e apoio de outras nações indígenas, como os goitacazes, carajás e aimorés, os tupinambás estabeleceram uma aliança contra os tupiniquins e portugueses. Para insuflar o levante contra os colonizadores, os franceses, interessados em se apossarem da baía da Guanabara e imediações, forneceram armas para a confederação. No período dos embates, Cunhambebe veio a falecer por infecção e foi sucedido na liderança por Aimberê. Entre suas ações, houve a tentativa, em vão, de cooptar os tupiniquins para que estes abandonassem os portugueses e se aliassem à Confederação dos Tamoios. 

As etnias conflagradas situavam-se ao longo do Vale do Paraíba, do litoral e da baía da Guanabara. A guerra foi travada, de um lado, pelas tribos tupinambás, reunidas sob o nome de Tamoios, e aliadas aos franceses que, estabelecidos na colônia da França Antártica, a partir de 1555, disputavam a região do Rio de Janeiro com Portugal; de outro lado, pelos portugueses aliados aos tupiniquins, que tentavam estabelecer seu empreendimento colonial e subjugar a revolta. 

A luta só terminou com a chegada de reforços portugueses, com o capitão Estácio de Sá, o que deu início à expulsão dos franceses e a ---------------------------------------------------------------------------------------- * Uwatiby é variação de Uwattibi, vocábulo escrito por Hans Staden, no livro “Viagem ao Brasil”, de 1557. A palavra passou de Uwattibi para Uwatiby, Uwatibi e Ubatyba, até a atual grafia Ubatuba. Plínio Airosa, em “Primeiras Noções de Tupi”, anota o vocábulo como “Uyba-tuba”. dizimação de seus aliados tamoios. A guerra é relatada, em parte, nos escritos do mercenário alemão Hans Staden, que foi prisioneiro dos tupinambás na região de Ubatuba, por nove meses, tendo acompanhado o chefe Cunhambebe em expedição bélica contra os portugueses e tupiniquins na região de Bertioga. 

Com a interferência dos jesuítas Nóbrega e Anchieta, fundadores de São Paulo, uma trégua foi selada no episódio conhecido como Armistício de Iperoig, no qual os portugueses foram obrigados a libertar todos os indígenas escravizados. 

José de Anchieta 

O padre José de Anchieta, jesuíta da Companhia de Jesus, nasceu em 19 de março de 1534, em San Cristóbal de la Laguna, Ilha de Tenerife no arquipélago das Canárias, Espanha . Faleceu, no Brasil, em 9 de junho de 1597, na localidade Reitiba ou Iriritiba, hoje município de Anchieta, estado do Espírito Santo. Seus restos mortais jazem no Palácio Anchieta, em Vitória (ES). Foi beatificado em 22 de junho de 1980 pelo papa João Paulo II e canonizado em 3 de abril de 2014, pelo papa Francisco.


Anchieta, com 19 anos de idade, chegou ao Brasil em 1553, a bordo da caravela que também trazia de Portugal o segundo governador geral do Brasil, Duarte da Costa, recém-nomeado pelo rei D. João III. Alguns meses depois de embarcar na Bahia, Anchieta já era um dos mais requisitados evangelizadores jesuítas. Recebeu, por exemplo, a incumbência de ajudar a fundar um colégio da Companhia de Jesus no planalto de Piratininga. Assim o fez, em 25 de janeiro de 1554, juntamente com o padre Manuel da Nóbrega, o que deu origem à cidade de São Paulo. 

Em 2023, vários templos reverenciam seu nome, como o da Catedral de San Cristóbal de La Laguna, nas Ilhas Canárias; e, no Brasil, do Santuário Nacional de São José de Anchieta, na cidade que leva o seu nome. A festa litúrgica em sua honra é celebrada em 9 de junho. Foi designado Copadroeiro do Brasil. As principais homenagens ao santo que viveu uma parte de sua vida em Ubatuba são: Rodovia Anchieta, em São Paulo; Monumento ao Padre José de Anchieta em Tenerife, Espanha; Discursos pronunciados em sessão solene no Congresso Nacional, em 24 de junho de 1980; Estabelecimento do dia 9 de junho, como Dia de São José Anchieta; Denominação de Palácio Anchieta à sede do governo do Espírito Santo; Estátua do Padre José de Anchieta, em São Vicente (SP). Em Ubatuba (SP), um monumento na praia Iperoig - com uma estátua de Anchieta, rodeada por estátuas de índios - exalta a celebração do tratado Paz de Iperoig. Além disso, o dia 14 de setembro é feriado no calendário oficial da cidade, em reverência à proclamação do armistício em 14 de setembro de 1563. Ainda em Ubatuba, um acidente geográfico tem o seu nome: Ilha Anchieta.

José de Anchieta ingressou na missão eclesiástica em Portugal. Era gramático, dramaturgo e poeta. No Brasil, viveu em São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Criou a primeira cartilha em língua tupi. Escrita em apenas 6 meses, descreveu e sistematizou no papel uma língua nova, até então apenas oral, baseando-se no modelo estrutural do latim. Com o nome “Artes de Gramática da Língua Mais Usada na Costa do Brasil”, foi impressa em 1595, em Coimbra, Portugal. A gramática de Anchieta foi a segunda gramática de uma língua indígena. A primeira tinha sido a Arte de la Língua Mexicana y Castellana, do frei Alonso de Molina, publicada no México em 1571. 

Graças ao seu magnífico trabalho, o padre Anchieta realizou um dos princípios básicos da Companhia da Jesus: o de que todos os missionários deveriam aprender a língua da terra onde exerciam seu ministério, para empregá-la em vez de seu próprio idioma. De sua gramática foram lançadas 7 edições. Da primeira edição sabe-se de três exemplares: Um na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro; outro na Biblioteca Vittorio Emanuele, Roma; e o terceiro no Arquivo da Companhia de Jesus, Roma. A partir da gramática de Anchieta iniciou-se o estudo do tupi, em Salvador, no colégio jesuíta. Aprender tupi valia para todos os que exerciam os serviços catequéticos missionários.

Anchieta escreveu poesias, cartas e autos. O conteúdo dos seus textos se referia aos conceitos morais, espirituais e pedagógicos. Inicialmente redigiu em castelhano e em latim. Depois, traduziu para o idioma português e para o tupi. 

Catequese 

Padre José de Anchieta dedicava-se a catequizar os indígenas, isto é, apresentar-lhes os preceitos cristãos. Tinha, ainda, especial atenção em se comunicar com os nativos. A preocupação com a língua local girava em torno da dificuldade que seria europeizar o novo mundo conquistado, sem se fazer compreender por seus moradores. Em São Vicente, entre os tupiniquins, aprendeu a língua tupi. Em 1595, escreveu “Arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil”, a primeira gramática do Tupi - Guarani. 

Em menos de meio século os jesuítas ganharam a confiança dos nativos e transmitiram os preceitos e comportamentos cristãos. Tornaram-se, assim, a mais potente organização a serviço da Igreja Católica, nas palavras do estudioso em comunicação Luiz Beltrão, no livro “Folkcomunicação”. O êxito se deveu em grande parte ao esforço descomunal do padre José de Anchieta que, por décadas, observou as festas e rituais dos tupinambás e de outras tribos com os olhos de um antropólogo. 

“A noção de cultura histórica, dinâmica e flexível permite perceber nas inúmeras contradições presentes nos textos e discursos dos inacianos a imensa complexidade das relações de contato. Nessa perspectiva, os índios tornaram-se sujeitos ativos na colonização, respondendo a ela de formas variadas, buscando também, nas relações com os europeus, vantagens e benefícios de acordo com as culturas e organizações sociais, que igualmente se alteram no decorrer do processo histórico. É o que se pode depreender da vasta e diversificada obra de Anchieta, que inclui a Gramática da Língua Tupi, várias informações sobre a terra, seus habitantes e o desenvolvimento da colonização, cartas, poemas e os famosos autos” (Almeida, 1998). 

A atuação de Anchieta como catequista foi numa fase inicial de sua vivência no Brasil Colonial. Logo em seguida dedicou-se, principalmente, à instrução dos filhos dos colonos portugueses. Fez isto paralelamente aos estudos da língua e dos costumes dos gentios. Desta forma produziu uma vasta obra evangelizadora. 

Anchieta em “Terra Tamoia”

Em referência a José de Anchieta, a escritora Idalina Graça, nascida em Ilhabela e radicada em Ubatuba, no livro “Terra Tamoia”, às páginas 55 e 56, estampa:

O velho relógio da Matriz, na sua imperturbável marcha através das coisas e do tempo, marca meio dia. A praia, em quietude, vive nesse momento uma de suas horas mais belas, principalmente para os que compreendem a poesia do silêncio. Minha alma enxerga, nessa mansidão das coisas paradas, uma possibilidade de fuga para a região dos sonhos. Vai longe meu pensamento, como um corcel alado, vivendo outra personalidade. Volto ao passado, às mesmas praias aonde divago sentindo as carícias das alvas espumas eu vêm tocar meus pés descalços. Longe do mar, na verde e prata, sob o céu vivo e azul, emoldurado por um continente de sonhos, revela a inigualável artista, fonte prodigiosa de poesia, a Natureza. Na areia, matizada de conchas, o sol brinca, dourando-as. Meu espírito retrocede aos séculos que se foram. Impulsionada pela brisa do norte, balouça mansamente nas águas de Iperoig uma galera portuguesa. Um luso de compleição robusta, feições ríspidas, pele marcada pelo sol e pelos ventos dos trópicos, olha a beleza daquele quadro e seu pensamento vai longe.

– “Terra dos meus pais, jamais voltarei a ti! Não espero ter a ventura de voltar a estreitar nos braços os entes a quem amo e que lá ficaram! Nunca mais o meu olhar cruzará com o da mulher que tanto amei, nem verei o rouxinol em meu velho Portugal construir seu ninho junto à casa de meus pais!”. Assim meditava o português, levado pela saudade do povo distante, olhando as vagas esfrangalhando-se em cascaras de espumas reluzentes, nos rochedos de Iperoig. Mão amiga pousou-lhe sobre os ombros. Ouviu-se a voz meiga e suave de seu companheiro de exílio a murmurar-lhe aos ouvidos, diante daquele cenário agreste da terra brasileira, a mensagem de fé: – “Seremos fortes como as rochas que nos desafiam e nada nos poderá deter no áspero caminho! Nossa cruz não será demasiado pesada! O momento que passamos é digno de ser vivido! Tens, à tua frente, um futuro de glórias, terras a conquistar, gentios a dominar, e um dever a cumprir perante Deus e a Pátria”

Com a serenidade dos iluminados, assim falou o meigo filho de Tenerife ao moço português, levando esperança outra vez ao espírito vacilante do ousado navegante. E o luso, unindo o próprio pensamento ao de Anchieta, agradeceu a Deus o conforto com que o revigorava naquele instante. No dia seguinte, quando o sol veio, outra vez, iluminar a terra escolhida para abrigar o Santo Missionário, ali já não encontrou aquele homem dominado pelo desalento, que tivera um instante de desânimo diante da imensa tarefa que lhe coubera. Para o lusitano, em busca de outras paragens, misteriosas e desconhecidas, levando em sua galera um arsenal de esperanças, sonhos e ilusões, tendo por bússola aquela extraordinária fé, que Anchieta lhe transmitira nas alvas areias de Iperoig.

O jesuíta solitário une sua voz ao marulho das vagas, sem temer perigos, esperando sempre a cruel flecha dos Tamoios. Tomba os joelhos na areia úmida e ergue ao céu uma prece por toda a humanidade. Outrora, assim vibrou a fé de Anchieta.

Referências Bibliográficas:

ALMEIDA, Maria Regina Celeste de. Anchieta e os índios de Iperoig: reflexões sobre suas relações a partir da noção de cultura histórica. Revista de Ciências Sociais, v.29 N.1/2, 1998. 
ANCHIETA, Padre José. Cartas Inéditas. Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, edição comemorativa do 4º centenário. São Paulo, 1900. 
CONFEDERAÇÃO dos Tamoios. In: www.pt.wikipedia.org, acessada em Nov de 2023. GRAÇA, Idalina. Terra Tamoia. Editora Martins, São Paulo, 1967. 
STADEN, Hans. Viagem ao Brasil. Marburgo, Alemanha: 1557. Republicação da Academia Brasileira de Letras. Rio de Janeiro: 1988. 
VIEIRA Celso. Anchieta. Cia. Ed. Nacional, 3ª edição, São Paulo, 1949. Índice Página Apresentação 3 Padre José de Anchieta 4 Tratado de Paz 4 A Confederação 5 José de Anchieta 6 Catequese 8 Anchieta em “Terra Tamoia” 9 * * *