Resenha
Um livro que conta a história da aviação em Taubaté (SP)
Por Arnaldo Chieus *
“A aviação em Taubaté e os 25 anos do Aeroclube Regional” foi editado
em 2018. Com a publicação deste livro seus autores, Cesar Rodrigues e
Carlos Caetano Florentino, prestam à memória da aviação em Taubaté o
inestimável trabalho de reunir a síntese do processo histórico da aviação,
desde o primeiro pouso de Anésia Pinheiro Machado, até a importância da
Aviação do Exército.
Pode-se afirmar que a aviação em Taubaté teve início em 1922, na
primeira aterrissagem de uma aeronave em campo improvisado nas
margens da ferrovia. O pouso realizado por Anésia Pinheiro Machado,
então com 18 anos, pilotando o avião Caudron G-3, de fabricação
francesa, batizado de Bandeirante, com motor 120 HP, foi parte da
travessia aérea entre S. Paulo e Rio de Janeiro por ocasião das
comemorações do centenário da independência do Brasil. O reide foi
iniciado no dia 5 de setembro, com aterragens em Taubaté,
Guaratinguetá, Cruzeiro, Pinheiral (RJ) e, por fim, no Campo dos Afonsos,
no Rio de Janeiro, em 8 de setembro de 1922. Importante ser lembrado
que a essa mesma época outro reide havia partido de Santiago (Chile),
patrocinado pela Aviação do Exército chileno também em direção ao Rio
de Janeiro, sob o comando do capitão Diego Aracena. Este reide não
logrou êxito até o final uma vez que a aeronave chilena fez um pouso
forçado na praia do Itaguá, em Ubatuba, impossibilitando o percurso. O
reide chileno está descrito no livro "A Jornada Aérea: dos Andes ao
Atlântico", de Cesar Rodrigues.
A revolução paulista e as operações aéreas
Palco de operações aéreas durante a Revolução Constitucionalista de
1932, Taubaté apoiou as (operações aéreas) manobras das
aeronaves paulistas ante as tropas federais. E com a construção de um
campo de aviação grande número de aeronaves passou a circular no
espaço aéreo da região do Vale do Paraíba com pousos em Taubaté,
Pindamonhangaba, Cruzeiro e Lorena.
Com o fim da revolução constitucionalista, a cultura aeronáutica já estava
enraizada no cerne do povo taubateano e esse espírito levou à criação do
seu primeiro aeroclube. E todo esse entusiasmo contou com o apoio da
elite industrial da cidade. Octavio Guizard, da Cia. Taubaté Industrial CTI,
destinou terras de sua propriedade para a construção e instalação de uma
pista de pouso onde atualmente se localiza o bairro Parque Aeroporto.
Com o passar dos anos o aerodesporto de Taubaté foi referência regional
e contou em seu plantel com grandes e renomados instrutores.
Um pouso em Tremembé - A Fazenda Maristela
Com a expansão industrial de Taubaté a pista de pouso foi desativada para
dar lugar a um segmento na fábrica da Ford e de um novo bairro em
Taubaté, o Parque Aeroporto em alusão ao antigo campo de pouso cedido
pela família Guizard.
A partir de então as operações do Aeroclube passaram a ser realizadas no
campo da centenária Fazenda Maristela, erguida pelo barão de Lessa no
século XIX para o cultivo do café e depois rebatizada pelos monges
trapistas franceses da Ordem de Maristela. Localizada no vizinho
município de Tremembé, a fazenda dispunha de um aeródromo e serviu
ao Aeroclube nos últimos 15 anos de sua existência, formando e
brevetando novos aviadores, tendo vários se tornado pilotos comerciais.
O aeródromo da Fazenda Maristela, após a desativação do antigo
aeroclube, serviu para pousos ocasionais e, posteriormente, abrigou
oficinas para a manutenção de aeronaves ultraleves.
As pioneiras da aviação em Taubaté
Resgatando os 25 anos do Aeroclube Regional de Taubaté o livro faz o
registro de duas aviadoras que se destacaram e com seus exemplos
incentivaram a prática da aviação civil nos meados das décadas dos anos
1930 e 1940: Joanna Martins Castilho e Elisa Braga, ambas treinadas pelo
instrutor Astério Braga.
Joanna Martins Castilho, natural de S. Paulo, nasceu em 1924 e foi
apoiada pelos pais para realizar seu sonho de se tornar piloto de aviação.
Sua família foi morar em Taubaté e aos 13 anos começou a frequentar
aulas no Aeroclube de Taubaté demonstrando grande vocação para
aprender manobras aéreas. Joanna, a Joaninha, como ficou conhecida,
realizou seu primeiro voo solo com 14 anos e, aos 15 anos ganhou o
primeiro campeonato de acrobacia aérea em 26 de outubro de 1940. Seus
feitos como aviadora acrobata foram registrados pela imprensa da época
e seu nome ganhou dimensão nacional. Joanna Martins Castilho voou
desde 1938 até casar-se, em 1943, com Almerindo D'Alessandro, piloto
brevetado também pelo Aeroclube de Taubaté, onde ambos também
fizeram aulas de paraquedismo. Faleceu no dia 14 de junho de 1991 aos
67 anos de idade.
Maria Elisa Braga, também elevada à categoria de pioneira da aviação, foi
brevetada em 1941 e nesse mesmo ano obteve a licença de piloto-aviador
Internacional, em 8 de junho de 1941, pela Federação Aeronáutica
Internacional. Além de pilotar aeronaves, Elisa Braga também saltava de
paraquedas. Em 1941, durante as comemorações da Semana da Asa no
aeródromo de Manguinhos, no Rio de Janeiro, após ter feito voos
acrobáticos, realizou um salto de paraquedas, saindo de um avião da FAB
a 500 metros de altura. Maria Elisa Braga, piloto e paraquedista, nasceu
em Taubaté em 17 de novembro de 1903. Foi casada com o aviador e
instrutor de voo Astério Braga.
Um taubateano nos céus da Itália
Nascido em Taubaté em 07 de outubro de 1922, Fernando de Barros
Morgado ao atingir a maioridade ingressou no CPOR (Centro de
Preparação de Oficiais da Reserva) e, ao tornar-se a aspirante, candidatou-
se para estar entre os oficiais e praças que compunham o núcleo do 1°
GAvCA (Grupo de Aviação de Caça).
Após treinamento no Brasil, foi enviado aos Estados Unidos para o curso
de pilotagem face à eclosão da Guerra. Concluída sua formação retornou
ao Brasil onde recebeu o Gládio Alado, símbolo da Força Aérea Brasileira,
na cor branca, que simbolizava a diferença (entre) com os oficiais da ativa,
os quais usavam a insígnia na cor preta.
E assim, como integrante desse grupamento, foi enviado para a Itália para
voar o P-47 Thunderbolt, do "Senta a Pua". Nos campos da Itália executou
inúmeras missões de combate e com o fim do conflito (vou e com o fim do
conflito) voltou ao Brasil e passou a desempenhar funções de instrutor na
Base Aérea de Santa Cruz.
Ao dar baixa na Força Aérea, como segundo tenente, seguiu carreira na
aviação civil, como comandante na Panair do Brasil. Fernando de Barros
Morgado morreu em decorrência de desastre aéreo no dia 16 de junho de
1955 nas proximidades de Assunção, no Paraguai, a bordo de
Constallation 263, num voo Londres-Buenos Aires, com escalas no Rio de
Janeiro e S.Paulo.
O capítulo final é dedicado ao Cavex - Comando de Aviação do Exército, a
principal base aérea do Exército Brasileiro e sua importância estratégica
por estar localizada em Taubaté, próximo da indústria aeronáutica e dos
importantes centros de pesquisa e infraestrutura aeronáutica do Brasil.
Desde 1993 a Base Aérea foi utilizada pelo Aeroclube Regional de
Taubaté, que fazia uso de dois hangares civis, abrigando uma escola de
pilotos e comissários de bordo.
* Arnaldo Chieus é professor, advogado, entusiasta da aviação e membro
do Conselho Gestor do Instituto Salerno-Chieus