O Sitio Sapé se engalanou, sempre, com os Festivais de Viola – Caiçara e Sertaneja. Vinham sertanejos das cidades e dos sertões. O Grupo Paranga, de São Luiz do Paraitinga, moças lindas, ganhavam cada vez que se exibia. “Seu” Otávio, o violeiro, sempre ajudava a receber o pessoal da viola e da dança. Era um folclore puro, uma festa de cores e alegrias, que reinou 13 vezes no Tenório, atraindo a atenção popular e das autoridades.
Lembro da criançada do “Era uma Vez”, escola pioneira do Itaguá, com suas professoras Odete e Tixa, desenhando e pintando as duplas de cantadores, o Ari Mattos como sempre o apresentador oficial da festa, o júri dos festivais, comandado por um “seu” Filhinho, um Felix Francisco, os comes e bebes comandado pelas senhoras voluntárias da Cida Origuella. Elas faziam um gostoso “peixe azul” no fogo de lenha e todos se deliciavam (os violeiros, de graça).
Quem ajudava eram os amigos e os caiçaras do bairro. Se havia algum “lucro”, com a venda de doces, pipocas, entradas (“Circo Arranca Toco” se exibia), era destinado aos vicentinos da Capela do Itaguá. Os caseiros do Sítio Sapé, Velho Augusto e Parú, comandavam a engrenagem do Festival. E também amigos como o Arnaldo Chieus e o Celsinho, e o casal Walmar e Ricardo que traziam as crianças da Escola Altimira Silva Abirached, do bairro do Itaguá promovendo todo tipo de recreação, promovendo trabalhos manuais, arte infantil e pinturas. Tudo isso exposto na hora mesma da produção e apreciado pelos adultos, pais, familiares e o público em geral.
O João Alegre cantava, sempre.
Cada Festival durava o dia inteiro, exibiam-se as duplas e os violeiros, num tablado arrumado no centro do Sítio – onde estava uma escultura espontânea, que armei com bambus cheios de cracas, achados na Praia Grande, depois das chuvas. Ficou um trabalho original, a la Niemayer, que depois chamei “Homenagem ao Pescador Caiçara Desconhecido”. O Paulo Florençano, folclorista e escritor, vindo de Taubaté, fotografou aquela arte “espontânea” e bela.
Lembro-me dos prefeitos de Ubatuba, que vinham sempre, gostavam da festa, abraçavam os cantadores, davam entrevista ao Jurabello, da Costa Azul. Celso Teixeira Leite, Pedro Paulo Teixeira Pinto, Zizinho Vigneron, Fiovo Frediani, José Nélio de Carvalho... Certa vez, trouxe de São Paulo o Zé Ketti, que presidiu o júri. Também veio o Paulinho Nogueira. O Renato Teixeira certa ocasião participou de um dos festivais, dando um verdadeiro show, tocou músicas do sertão, contou histórias dos tempos da Ilha Anchieta...
No Museu do Bairro do Tenório, a gente expunha fotografias da memória caiçara do colecionador Edson Silva, além das pinturas primitivistas de João Teixeira Leite, esculturas do “Bigode”, cerâmica das figureiras de Taubaté, pássaros e artesanato dos quilombolas da Casanga. O Jacob num misto de escultor, músico e filósofo performático expunha seus emblemáticos entalhes e composições com madeira.
Uma vez chegou um fotógrafo de Lorena, Adilson Maier, com excelentes fotos da gente caiçara e dos “velhos” da Picinguaba num trabalho denominado por ele como “Miscelânea Caiçara”, numa homenagem à nossa sempre querida e inesquecível Idalina Graça. Tudo era um show de arte, cultura, cantoria, dança e folclore. A TV Globo chegou a cobrir umas 5 vezes o Festival, com Carlito Maia à frente, e o repórter Ernesto Paglia. A mistureba estava assim feita... O Julinho, o Velho Rita, o Jorge, o Otávio, os Barroso, o Beto, o Raposa, os Quincas e Janguinhos, o artesão Carlos Rizzo, o Miguelsinho, o seu Albino... Ali estava todo o Tenório, o Acaraú, o Itaguá. A linda Carlota e o Cícero Assunção, o Zizi e o Barriquinha, o Professor Joaquim Lauro e Dª Zezé, as famílias Pirozzi, Dª Carmem, Aloysio, Ruth, Zilda, Márcia, Tixa, Helena, gente entrando e saindo, o quentão e a comida, os corações e as almas da gente voando, ganhando o céu radioso de Ubatuba.
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