Durante a minha ausência, tinha chegado hóspedes. Um deles conquistou-me desde logo. Simpático, alegre, dono de uma prosa que fazia muitos meses eu não tivera oportunidade de ouvir no hotel. Tornamo-nos bons amigos. Disse-me ser professor aposentado.
– Sou filho do município de Ubatuba. Nasci lá para os lados da Ribeira. Saí criança daqui, estudei e me formei, porém, na minha mocidade, lecionando por este mundo a fora, nunca esqueci minha terra; aqui estou agora, incumbido pelo governo do Estado de fundar o Entreposto de Pesca.
O professor Teodorico de Oliveira foi o primeiro homem que conheci naqueles dias, a serviço do governo do Estado, disposto a amparar o pequeno pescador.
Outros dias vieram. E era de ver a alegria que ele irradiava, metido em uma calça de zuarte grosseiro, camisa aberta ao peito, uma inseparável piteira nos lábios, movimentando-se entre os operários, exposto ao sol causticante, que, no dizer dele, o rejuvenescia.
E, daquele charco de guanxuma e lama surgiram, pouco a pouco, os alicerceares do edifício que atualmente é a sede do D.E.R.
Mas, voltemos àqueles dias, em que o progresso estava bem longe de Iperoig e nós tínhamos o sentimento de que o sol, mar, praia e luar, eram propriedades nossas.
O professor dizia:
– Antevejo, Idalina, que não alcançarei o progresso de Ubatuba. A idade não permitirá. Mas se você viver até lá, lembre-se de que dei o que pude para alcançar o sonhado objetivo: a proteção ao pequeno pescador.
Ele morreu. Não sem antes ser ferido pela ingratidão dos homens. Paz à sua alma. Que os mesmos que o feriram compreendam um dia, nesta vida, como erraram e assim possam alcançar o perdão.
TERRA TAMOIA – Páginas 88/89.
Um comentário:
Que delícia ler essas lembranças! Sou bisneta do prof. Theodorico, nao cheguei a conhecê-lo, mas ouvi muitas histórias de meu avô. Obrigada!
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