Bigode, Da Motta e Jacob |
Tenho em casa uma linda estatueta entalhada em madeira de cedro das matas de Ubatuba, representando São Longuinho, que, na hagiologia católica é aquele santo responsável por descobrir os objetos perdidos.
Há, até um refrão popular, que corre assim: “São Longuinho, São Longuinho, ... (e fala-se o objeto perdido), se o encontrar darei três pulinhos”. Em pouco tempo o objeto é encontrado. Essa é a lenda.
Pois, em Ubatuba, um artista entalhador reportou numa pequena imagem a figura de São Longuinho, o que é muito raro. Não conheço, na escultuária ou entalharia nacional, de Brecheret a Bruno Giorgi e demais mestres, outro “São Longuinho”.
Pois, em Ubatuba, um artista entalhador reportou numa pequena imagem a figura de São Longuinho, o que é muito raro.
Segundo o próprio artista me disse em sua casa ateliê no Perequê-Açú, em Ubatuba, SP, que sempre gostou de “São Longuinho” desde pequeno, achando bichos e madeiras, nestes matos de Ubatuba...
E um dia, assistindo a TV Globo, anunciaram: “veja hoje a história de S. Longuinho”... Ele vibrou, assim me disse. Pegou lápis e papel e desenhou a imaginária do santo franciscano... Depois, foi pra sua oficina, nos fundos da casa, e ”fez” S. Longuinho... que comprei, como sempre fiz, com a arte maior do mestre popular das matas , do litoral norte.
Bigode é a alcunha dele. Por nome: Antonio Teodoro dos Santos, conhecido por sua arte não só em sua terra natal como em exposições que fez na região e na capital paulista.
O interessante é que o artista, de repente, já alguns nos conseguiu destaque na comunidade patriarcal do Vaticano onde um sacerdote regular, Frei Pio Popullin, que servia à diocese Taubaté/Ubatuba, conheceu o entalhador/artista levando algumas de suas peças para seu círculo religioso de Roma, que lhe deu justa fama.
Conhecemos como turista e jornalista e amigos de Ubatuba, como, entre outros, os artistas João Teixeira Leite, Da Motta e Jacob, o Bigode e suas proezas na arte do esculpir em madeira pura da mata.
Antonio Teodoro dos Santos nasceu em 1932 de modesta família caiçara da região do Perequê-Açú e Barra Seca sendo que desde bem pequeno já demonstrava pendores para o entalhe de madeira. Desde suas primeiras entalhadas aos 7 anos de idade, como diz o jornalista Luiz Pavão (Ubatuba em Revista – n. 3/2008). Bigode já demonstrava invulgar talento para essa artesania. Paralelamente tornou-se um praticante de esportes, dedicando-se a corridas de média e longa distância sendo muito comum vê-lo pelas ruas da cidade praticando seu esporte predileto, preparando-se para a Corrida de São Silvestre, que disputava todos os anos em São Paulo.
Bigode foi casado por mais de 50 anos com a caiçara Joana Pinheiro que lhe de 20 filhos, 40 netos e vários bisnetos, que povoavam sempre sua casa-ateliê no Perequê-Açú.
Ali recebia também amigos e cliente, alguns deles da capital e de outros locais, que adquiriam ou encomendavam peças de madeira – bichos, santos, todo tipo de entalhes de peças caseiras.
Neste ano de 2015 a morte o colheu após cruel cegueira. Mesmo assim o artista entalhava suas peças de madeira, de invulgar beleza. Muitos o chamavam então de “O Aleijadinho hodierno”, mas isso só o tempo dirá.
Luiz Ernesto Kawall
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