Texto inédito de LUIZ ERNESTO KAWALL
O Museu do Bairro do Tenório, que
fundei em 1983, com o saudoso Praxedes Mário de Oliveira, procurou nestes anos
resgatar a memória ubatubense, seja através dos festivais de viola, como
através de seu acervo típico, com peças e objetos dos hábitos dos moradores dos
bairros do Tenório, Acaraú e Itaguá. Com a ajuda inestimável de muitos
colaboradores, entre os quais destaco João Teixeira Leite, Arnaldo Chieus e
Mestre Otávio, reunimos no predinho do Museu Mais de 1000 pertences dos
caiçaras – fotos, álbuns, formões, enxós, pilões, máquinas de moer, serras
cadeiras, mesas, lampiões, cestas, anzóis, redes, garrafas – inclusive uma
legítima pinga “Ubatubana”, etc., isto é, peças antigas e artesanais. Isto já
tínhamos visto, em ponto maior, á claro, no Museu do Homem, de Paris, sendo
que, a moderna museologia prega justamente a juntada de peças das comunidades
de bairro, como os Museus de Rua, o Museu de Família, e outros, que, em ponto
menor, alcançam, pela sua tipicidade, uma amostragem espontânea e fiel do grupo
humano.
Muitas vezes, o nosso museozinho foi retratado na
mídia local e de São Paulo, como único repositório da memória viva de Ubatuba,
já que, o “Museu Hans Staden”, fundado nos anos 60 pelo prefeito Ciccillo
Matarazzo, Wladimir de Toledo Piza, Paulo Florençano, Washington de Oliveira e
este modesto escriba, acabou vitimado por sucessivas e desastrosas
administrações municipais – e fechou. Seu rico acervo, dizem, está na Fundart,
encostado, à espera de um salvador, que lhe dê dignidade e montagem em nome dos
que se interessam pela história tão rica da cidade.
Pois é esse, o Museu do Bairro, composto em sua arquitetura
com as portas, janelas e vitrôs do Hotel Felipe, da Casa Vigneron e da Fazenda
Velha, é que agora, formalizamos sua doação ao Projeto Tamar. Entendemos que,
agora associado e de todo integrado ao novo núcleo, possa somar esforços na
defesa da ecologia e a natureza da costa do litoral norte do Estado, centrado
em Ubatuba, e sob o comando dessa dinâmica oceanógrafa Berenice Gallo.
O Museu comporá os prédios administrativos do Tamar,
em sua nova sede, em terreno doado pela Prefeitura municipal, sob a égide do
IBAMA. Agora, não mais como Museu do Bairro, mas como Museu Caiçara, ampliando
a sua ação, a sua temática e a sua filosofia de trabalho. Onde entra agora,
também, a defesa da melhoria de vida do caiçara, a defesa da mata atlântica e
da natureza bela e majestática da costa azul brasileira. Alguém disso, nesta
solenidade, citando Monteiro Lobato – que, aliás, correspondia-se com a nossa
escritora caiçara Idalina Graça – que “um país não se faz sem homens e livros”.
Vamos, aqui, mudar um pouquinho a frase lobateana, adaptando-a aos propósitos
do Tamar, com uma epígrafe, senão uma boutade que se pretende seja oportuna:
-Um país se faz com homens, livros e...
tartarugas!
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