ISC - Idealizado em 1993, o Instituto Salerno-Chieus nasceu como organismo auxiliar do Colégio Dominique, instituição particular de ensino fundada em 1978, em Ubatuba - SP. Integrado ao espaço físico da escola, o ISC tem a tarefa de estimular a estruturação de diversos núcleos de fomento cultural e formação profissional, atuando como uma dinâmica incubadora de empreendimentos. O Secretário Executivo do ISC é o jornalista e ex-prefeito de Ubatuba Celso Teixeira Leite.
O Núcleo de Documentação Luiz Ernesto Kawall (Doc-LEK), coordenado pelo professor Arnaldo Chieus, organiza os documentos selecionados nos diversos núcleos do Instituto Salerno-Chieus (ISC). Seu objetivo é arquivar este patrimônio (fotos, vídeos, áudios, textos, desenhos, mapas), digitalizá-los e disponibilizá-los a estudantes, pesquisadores e visitantes. O Doc-LEK divulga, também, as ações do Colégio Dominique.

LEK - Luiz Ernesto Machado Kawall, jornalista e crítico de artes, é ativo colaborador do Instituto Salerno-Chieus (ISC) e do Colégio Dominique. É um dos fundadores do Museu da Imagem e do Som de São Paulo e do Museu Caiçara de Ubatuba.

sábado, 17 de dezembro de 2016

A Barca de Gleyre


"...Meu dilema agora é este: ficar aqui metido em negócios ou remover-me para Ubatuba e passar um ano diante do mar - a namorá-lo, a cheirar-lhe as maresias, a comer-lhe os camarões e ostras, a pintar marinhas, a ouvir histórias de pescador, a pescar nas pedras, a tomar banhos e ficar ao sol da praia de mãos cruzadas sobre os olhos, como um caranguejo feliz.

Creio que foi aquele Joie de Vivre de Zola que me fincou na cabeça  tal ideia. E caso meu plano se realize, que tal ires passar lá uns três meses de licença, com a tua Bárbara? Ela há de estar precisadíssima de banhos de mar. Arranjo-te casa mobiliada junto à minha, se não couberem as duas famílias na que irei tomar - caso escape do hotel. E viveremos uns meses no mar, para o mar, do mar, pelo mar, como abandono de mulher que se entrega ao amante. Levaremos uma batelada de literatura marinha, Lotis e Conrads, e faremos literatura, contos e novelas cheias de mar, com muito verde-cana e muito azul do céu.

Ubatuba é uma grande  tapera à beira duma sucessão de praias lindas. Anda-se lé de pé no chão, com chepeirões de palha, sem paletó, a comer coco verde na  rua e a sentir de todos os modos do mar - nos banhos, nas refeições, nas pescarias, na leitura dos escritores marinheiros.

O juiz de lá é meu tio por afinidade e velho companheiro e colégio, de academia, de tudo. Aquele Eneias que se atirou do trole no desastre da ponte, lembra-se?

Uma estada assim em Ubatuba será de marcar época em nossas vidas, Rangel!... Seduz-me tanto que, podendo ser removido de Areias para Araraquara, estou negociando permuta com o promotor de Ubatuba. Talvez haja incompatibilidade por causa do tio afim. Já consultei a Secretaria e espero resposta. Mar, mar, mar... Há sempre saudades do mar na obscura trama do nosso imo. Já fomos filhos do mar, nos inícios da nossa evolução, quando eramos o peixe amphioxus..."

Trecho da correspondência entre Monteiro Monteiro Lobato e Godofredo Rangel extraído de "A Barca de Gleyre", Editora Brasiliense. 

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