ISC - Idealizado em 1993, o Instituto Salerno-Chieus nasceu como organismo auxiliar do Colégio Dominique, instituição particular de ensino fundada em 1978, em Ubatuba - SP. Integrado ao espaço físico da escola, o ISC tem a tarefa de estimular a estruturação de diversos núcleos de fomento cultural e formação profissional, atuando como uma dinâmica incubadora de empreendimentos. O Secretário Executivo do ISC é o jornalista e ex-prefeito de Ubatuba Celso Teixeira Leite.
O Núcleo de Documentação Luiz Ernesto Kawall (Doc-LEK), coordenado pelo professor Arnaldo Chieus, organiza os documentos selecionados nos diversos núcleos do Instituto Salerno-Chieus (ISC). Seu objetivo é arquivar este patrimônio (fotos, vídeos, áudios, textos, desenhos, mapas), digitalizá-los e disponibilizá-los a estudantes, pesquisadores e visitantes. O Doc-LEK divulga, também, as ações do Colégio Dominique.

LEK - Luiz Ernesto Machado Kawall, jornalista e crítico de artes, é ativo colaborador do Instituto Salerno-Chieus (ISC) e do Colégio Dominique. É um dos fundadores do Museu da Imagem e do Som de São Paulo e do Museu Caiçara de Ubatuba.

sábado, 16 de março de 2019

Lenda do Ouro do Corcovado


Conta a lenda que um Capitão chamado Manuel Fernandes Corrêa era proprietário de uma fazenda na Praia Dura. Um dia sua filha Alice resolveu fazer um passeio e embrenhando-se pela mata acabou se perdendo. Como prêmio o pai de Alice prometeu, ao escravo que encontrasse, liberdade imediata. Pedro, um escravo forte, conseguiu encontra-la após longa procura, trazendo-a carregada de volta. Alice fora encontrada no alto do Corcovado. No dia seguinte o escravo foi açoitado por não trabalhar devido ao cansaço, pelo esforço dispensado na procura de Alice. 

 Esta, sabendo do acontecido, exigiu do pai que cumprisse o prometido, ou seja, libertar o escravo que a encontrara. Vendo-se liberto, Pedro beijou as mãos da moça Alice e partiu sem destino para os lados do Corcovado, lá instalando uma choça ao lado de uma velha cascata, próxima à escarpa misteriosa. Pedro vinha sempre à Vila trocar canudos de Taquaruçú cheios de grãos de ouro, por fumo, cachaça, gêneros etc. 

Essa notícia foi também bater na fazenda do Capitão Corrêa que, uma noite, em companhia de um grupo armado, foi à choça de Pedro, capturou seu ex-escravo e levou-o para a fazenda. Lá chegando, Pedro foi torturado para contar como e onde descobrira aquele fabuloso tesouro. O escravo suplicava para não o forçarem a falar, pois não podia contar. Após novos sofrimentos, chicotadas etc., Pedro resolveu falar: Estava morando no Corcovado, na choça perto da cascata, quando soube da morte de Alice. A noite não conseguira dormir parecendo-lhe ouvir ao longe a voz cristalina da moça numa canção de amor. De repente, a porta do casebre tremeu e escancarou-se, penetrando por ela um vulto de mulher! Era Alice! Ele a reconheceu. Como que agarrado por mãos invisíveis, não pode se mover do lugar em que estava. Mas ouviu perfeitamente a visão dizer: “Pedro! Tu foste um dia meu salvador. Dei-te a liberdade, mas sei que tu sofres neste exílio maldito, onde te arrojou a crueldade de meu pai. Não te assustes e ouve-me. Não muito longe daqui, oculta nas entranhas da terra, existe uma grande mina de ouro. Ela será tua, sob a única condição de nunca revelares a outrem esse lugar cobiçado. Se isso tentares a vingança do gênio protetor da mina cairá sobre a tua cabeça, ouviste? Cuidado, pois, e segue os meus passos”. 

“Negro maldito” gritou o capitão: “Não retardes a revelação. Onde está o tesouro?” 

“Sinhô... Tá lá pra banda do ...” E o ruído do baque de um corpo encheu a sala da casa grande. Pedro caíra morto, fulminado antes de revelar o sítio misterioso do cobiçado tesouro, que até hoje jaz nas proximidades do Corcovado. Pedro bem dizia: “Pedro um pode conta...”

 Essa maravilhosa lenda dos idos tempos permanece até hoje no coração dos velhinhos da minha poética Ubatuba e quando a lua amiga e prateada inunda a terra tamoia com seus filamentos que se emaranham por entre o verde copado das velhas árvores de Cunhambebe, a mim me parece escutar, no murmúrio da brisa que irmana aos filamentos dessa mesma lua, a voz longínqua do preto torturado pelo açoite: 

“Sinhô, preto num pode contá...” 

BOM DIA UBATUBA páginas 77/78

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