Era um domingo luminoso, desses que convidam a gente a viver. Saí, e meus passos levaram-me à Rua da Conceição, onde está localizada a Santa Casa de Misericórdia de Ubatuba. . De aspecto humilde, agora reformada pelos esforços dos novos diretores, senhor Agnaldo Salinas, gerente do Bando Novo Mundo, e Armando de Barros Pereira, este contador e fazendeiro, filho de Taubaté, irmão de Urbano Pereira, já citado nestas páginas, que dispôs com a melhor boa vontade, das horas que sobram durante o dia, para dedicá-las, exclusivamente à Santa Casa local.
É de justiça que falemos do Sr. Armando Bohn, meu amigo de longa data, que também prestou valiosos serviços à esta Santa Casa de Caridade. Faz parte deste grupo de abnegados, Vitor Mayer Leite. Vale a pena narrar sua história.
Foi em uma tarde de maio, lembro-me bem. Nós já morávamos na Praça Nossa Senhora da Paz de Iperoig. Para ali havíamos transferido nosso meio de vida, com um hotel muito menor que o outro. Porém, o prédio era de nossa propriedade.
O hotel estava vazio e eu estava ao lado de Albino, já doente por esse tempo; contemplávamos o por do sol. De repente, bem em frente ao mar, surge um casal. Firmo o meu olhar no casal e vejo-o dirigir-se para mim. Ele cinquentão, simpático, bonito mesmo, distinto até nos pequenos gestos que fazia com a mão, a fim de mostrar à jovem esposa, o cenário maravilhoso de nossa terra. Ela morena, cabelos pretos, ligeiramente ondulados, muito graciosa, ouvia com maior atenção suas explicações. O destino fê-los parar diante da nossa janela. Conversamos, trocamos idéias e ficamos amigos. E desde então, quando o senhor Victor saia a passeio com Geralda, certo era parar em nossa casa para uma visita e um cafezinho. E, aos poucos, fui conhecendo melhor a ambos. Vim a saber que o nosso novo amigo era descendente de suíços radicados no Brasil, vivendo no interior do Estado, onde seus pais foram abastados fazendeiros.
O Sr. Victor, quando jovem, viajou muito e adquiriu amplos conhecimentos de vários países, como a Alemanha, França, Portugal, uma parte da América e outros mais.. É um “gentleman” na ação e na palavra. Amando Ubatuba como ama, radicou-se aqui, lutando abnegadamente ao lado das irmãs de caridade, em missão da A.L.A. (ou seja, Associação do Litoral de Anchieta) e dos demais companheiros, para que a Santa Casa de Misericórdia viesse a ser uma casa de bondade em nossa terra, como realmente está sendo.
Hoje, após tantos anos de serena amizade, continua sendo para mim o amigo fiel, sempre pronto a estender-me a mão quando tenho necessidade de seu apoio.
TERRA TAMOIA, página 153/155.
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