ISC - Idealizado em 1993, o Instituto Salerno-Chieus nasceu como organismo auxiliar do Colégio Dominique, instituição particular de ensino fundada em 1978, em Ubatuba - SP. Integrado ao espaço físico da escola, o ISC tem a tarefa de estimular a estruturação de diversos núcleos de fomento cultural e formação profissional, atuando como uma dinâmica incubadora de empreendimentos. O Secretário Executivo do ISC é o jornalista e ex-prefeito de Ubatuba Celso Teixeira Leite.
O Núcleo de Documentação Luiz Ernesto Kawall (Doc-LEK), coordenado pelo professor Arnaldo Chieus, organiza os documentos selecionados nos diversos núcleos do Instituto Salerno-Chieus (ISC). Seu objetivo é arquivar este patrimônio (fotos, vídeos, áudios, textos, desenhos, mapas), digitalizá-los e disponibilizá-los a estudantes, pesquisadores e visitantes. O Doc-LEK divulga, também, as ações do Colégio Dominique.

LEK - Luiz Ernesto Machado Kawall, jornalista e crítico de artes, é ativo colaborador do Instituto Salerno-Chieus (ISC) e do Colégio Dominique. É um dos fundadores do Museu da Imagem e do Som de São Paulo e do Museu Caiçara de Ubatuba.

sábado, 29 de agosto de 2015

DEPOIMENTOS DE MORADORES DE UBATUBA SOBRE SAINT-EXUPÉRY

1 – WASHINGTON DE OLIVEIRAFILHINHO”, farmacêutico, estudou ginásio em Ubatuba, formou-se em Pindamonhangaba, filho do Cel. Ernesto de Oliveira, foi prefeito de 1938–1938 e em 1954. Depoimento em sua farmácia, em Ubatuba, em 19-8-73. – Essa história do Saint-Exupéry começou quando o repórter Ewaldo Dantas Ferreira, da “Folha de S. Paulo”, promovia a Operação Ubatuba, em nossa cidade, em 1964, que deu início à Operação Rondon anos depois... Ele me convidou para falar aos estudantes em São Paulo, na ACM. Num domingo, sobre Ubatuba e acedi... Na viagem, vi no carro umas revistas, numa delas havia a foto de Saint-Exupéry, disse ao Ewaldo que esse aviador-poeta havia estado em Ubatuba, por algumas horas, quando seu avião sofreu uma pane, na rota Rio-Santos... Ele ficou interessadíssimo e ao me apresentar aos estudantes, contou o fato e a “F.S.P.” do dia seguinte registrou a notícia, creio que pela primeira vez na imprensa... Daí para cá interessei-me pelo assunto, localizei em Niterói, após imensas buscas, o Gilberto Nogueira Brandão, radiotelegrafista da “Air France” naquele tempo... Escrevi a ele, respondeu (ver anexo), confirmando a estada de Saint-Exupéry entre nós, mas não adiantando quase nada sobre datas, etc. O incidente citado ocorreu porque Saint-Exupéry queria se hospedar na casa da “Air France”, onde morava o Gilberto com sua família, mas ele não deixou, alegando que não tinha acomodações... Exupéry foi para o Hotel Felipe, com seu companheiro, ali passaram a noite, e meu tio, Deolindo, prefeito na época, pagou a conta do Hotel... Interessante que pagou a hospedagem e, vinha acrescido na nota, duas garrafas de champanhe, “Vinne Clicot”, que Exupéry e o companheiro tomaram à noite... No dia seguinte bem cedo saiam, foram até a praia, ainda passaram pela frente de casa, se despediram com um “au revoir”, e levantaram vôo, foram embora. Não sei se eles passaram telegrama no Correio local, acho que não, pois se a “Air France” tinha estação de rádio telegráfica, porque iriam usar o Correio e não a Companhia?... Infelizmente, isso não pode ser afirmado, pois o agente daquela época, Benedito Gomes dos Santos, já morreu... Eu conversei com S. Exupéry, quando o avião desceu – todo mundo correu para lá – Ubatuba era pequena, sabia frações, pois estudara essa matéria no Ginásio daqui. Sei e tenho certeza, também, que ele ficou no Hotel Felipe, mas não há mais os livros de assentamento, o Altino Fernandes, único descendente vivo do Cap. Benedito Felipe Fernandes, que era o proprietário do Hotel com o Heleno Soares Pinto, morreu... Quando o avião desceu, um húngaro, Julio Kertz, tentou falar com Exupéry em alemão, mas o aviador não entendeu... Eu me aproximei e disse “Voulez vou quelque chose?”, e daí nasceu nossa conversa... Não sei, ouvi dizer, que o Herman Porche tirou fotos do Saint-Exupéry em Ubatuba... Não as vi... Mas, tudo isso, estou reunindo elementos, para um livro que vou publicar. 

2 – D. ISABEL DE OLIVEIRA SANTOS, 79 anos, ubatubense. Depoimento coletado em São Paulo dia 20/8/73. Sra. de Deolindo de Oliveira Santos, ubatubense, prefeito da cidade em 1933. Depoimento em São Paulo, Rua Cláudio Rossi, 861. ... Não me lembro da descida de um avião francês em Ubatuba... estou muito esquecida, desde que o Deolindo morreu... uma vez caiu um avião nas Toninhas, o aviador parece que era chinês ou coisa assim... o Deolindo ajudou em tudo, depois ele seguiu para o Rio... de volta,deixou uns papéis na cidade, acho que eram agradecimentos ao Deolindo, ou coisa assim... Não sei se o Deolindo levou vinho estrangeiro para esse francês que o senhor fala... nós tínhamos vinhos de várias partes do mundo em casa, principalmente franceses e portugueses, o Deolindo era comerciante, importava das casas de S. Paulo e do Rio... Sobre o hotel que ficou esse aviador, não me lembro, mas deve ser o Hotel Felipe, que ficava defronte de casa, na Rua Maria Alves, e era o melhor, e mais antigo hotel de Ubatuba. 

3 – IDALINA GRAÇA Nasceu em Ilha Bela, foi morar em Ubatuba, casou com Albino Graça, dirigiram o Ubatuba Hotel durante muitos anos, publicou há alguns anos o livro “Terra Tamoia”, pela Editora Martins. Depoimento em Ubatuba, em sua residência, 18.8.73. O Ubatuba Hotel foi inaugurado em 1933, antes já existia, era do Armando Bohm... Quem dirigia ele era meu marido, Albino Graça, santista que aportou em Ubatuba, e esta sua criada... O Hotel ficava na praça central, onde hoje é o Cine Iperoig, era assobradado e bonito, bem espaçoso... Não me lembro do tal Saint-Exupéry no nosso Hotel... ele deve ter ficado no Hotel Felipe... no “Ubatuba” ficaram, que eu me lembre, Monteiro Lobato, que depois me escreveu contos tão bonitos, me incentivava a fazer poesias, Wladimir Piza, Joaquim Sylos Cintra, que depois governou S. Paulo e outros... Sim, até gente estrangeira, não me lembro os nomes... O Herman Porche e o Campi foram dos primeiros hóspedes, acho que os segundos... Essa história do Saint-Exupéry é com o “Filhinho”, ele é que sabe tudo da cidade, nunca vi esse aviador francês – e dizem que poeta também – nas ruas, no meu hotel, em lugar nenhum... Sou pobre, mas sou verídica... Como, o Deolindo buscar vinho estrangeiro para tomarem no Hotel, se o prefeito daquela época estava de mal comigo?... O meu livro “Terra Tamoia”, que fala da Ubatuba antiga, não fala nada disso, aliás, está esgotado... Estou com um outro livro pronto, o Piza disse que o José de Barros Marins vai editá-lo ainda este ano. 

IDALINA GRAÇA – ADENDO 

UBATUBA HOTEL inaugurou em 1933, já existia, era do Armando Bohm; É casada com Albino Graça (Santos), era daqui, eu nasci na Ilha Bela... Não me lembro do tal Saint-Exupéry em meu Hotel... Ele ficou no Hotel Felipe... No meu estiveram Monteiro Lobato, Wladimir Piza, Joaquim de Sylos Cintra e outros... O Herman Porche esteve no Hotel com o Campi, foi dos primeiros hóspedes... Quem sabe toda essa história do Saint-Exupéry é o Filhinho... Não me lembro da cara dele, nem vi na rua nada... Deolindo era de mal comigo, como foi buscar vinho para tomar no Hotel?... Sou pobre, mas sou verídica,... 

4 – NOTAS 

4 a. – Gilberto Nogueira Brandão – Radiotelegrafista da Air France – Exupéry foi à casa dele, queria se hospedar, Brandão disse não tinha instalação, discutiram, aí foi para o Hotel Felipe... 

4 b. – Quando o avião desceu, Julio Kertz (húngaro), quis falar em alemão com ele... Saint-Exupéry não entendeu... “Filhinho” tinha 26 anos... deveria ser entre 35 e 36... (33). Brandão escreveu Vasp porque a Vasp ficou com ele e mesma casa... não era agencia, era posto radiotelegráfico... acendia lampiões a querosene e punha na praia... 

4 c. – Benedito Gomes dos Santos – morreu – Piquito – Walmor Bolin – José Correa Leite – na antiga telefônica. 


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