ISC - Idealizado em 1993, o Instituto Salerno-Chieus nasceu como organismo auxiliar do Colégio Dominique, instituição particular de ensino fundada em 1978, em Ubatuba - SP. Integrado ao espaço físico da escola, o ISC tem a tarefa de estimular a estruturação de diversos núcleos de fomento cultural e formação profissional, atuando como uma dinâmica incubadora de empreendimentos. O Secretário Executivo do ISC é o jornalista e ex-prefeito de Ubatuba Celso Teixeira Leite.
O Núcleo de Documentação Luiz Ernesto Kawall (Doc-LEK), coordenado pelo professor Arnaldo Chieus, organiza os documentos selecionados nos diversos núcleos do Instituto Salerno-Chieus (ISC). Seu objetivo é arquivar este patrimônio (fotos, vídeos, áudios, textos, desenhos, mapas), digitalizá-los e disponibilizá-los a estudantes, pesquisadores e visitantes. O Doc-LEK divulga, também, as ações do Colégio Dominique.

LEK - Luiz Ernesto Machado Kawall (1927-2024), jornalista e crítico de artes, foi ativo colaborador do Instituto Salerno-Chieus (ISC) e do Colégio Dominique. É um dos fundadores do Museu da Imagem e do Som de São Paulo e do Museu Caiçara de Ubatuba.

12 setembro 2015

CARTA DO SR. JEAN-GÉRARD FLEURY


                                                                      Prefácio do livro “Saint-Exupéry e o Pequeno Príncipe”, de autoria da Irmã Rosa Maria

Minha querida Irmã, 

E assim você descobriu no Brasil, no Rio de Janeiro, alguém que foi durante catorze anos um amigo próximo de Antoine de Saint-Exupéry. Imediatamente você veio me ver, esperando provavelmente, encontrar em mim não sei que reflexo sobrenatural desse companheiro iluminado. E depois, quase timidamente, você me pediu que lesse os originais de um trabalho que você lhe tinha consagrado. Eu li esses originais e me apresso em dizer-lhe:

– Tranquilize-se, minha Irmã, e publique sem temor o seu livro.

Você não conheceu Saint-Exupéry – Saint-Ex., como nós o chamávamos – senão vários anos depois de sua morte. Você não assistiu suas apresentações de passes mágicos com baralho, você não o ouviu cantarolar velhas canções das províncias francesas – você não o viu no seu posto de pilotagem, a face suavemente iluminada pela lâmpada vermelha do painel do avião, procurar a estrela que, acima da bruma, o guiaria até o farol do Forte Juby...


Mas você leu, avidamente, sua obra. Você foi levada, por seu sopro místico, para bem longe dessa literatura desiludida que reduz o homem a algumas funções físicas. Você compreendeu que Saint-Exupéry trazia a uma juventude deprimida pela perspectiva de uma vida medíocre, o entusiasmo da alma que embeleza as tarefas mais modestas. Ela exalta sua profissão, a de aviador, que era então uma profissão cheia de perigos. Mas você leu também as páginas em que ele admira o jardineiro que cultiva suas flores com amor.

Para Saint-Exupéry o homem só cumpre sua missão neste mundo quando escapa à tentação do egoísmo, quando dá mais do que recebe, quando se abre á fé e ao amor e consente nos sacrifícios que tornam sua vida fértil.

Tudo isso você sentiu. Você o exprimiu muito melhor do que eu poderia fazê-lo nestas rápidas linhas e eu tenho certeza de que nada teria deixado Saint-Exupéry mais comovido, do que saber que uma Irmã brasileira dedicou-se à difusão dos seus pensamentos mais caros.

Queira receber, minha querida Irmã, meus respeitosos sentimentos.

Jean-Gérard Fleury
Rio, 27 de setembro de 1973

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