Por ocasião da X Semana Cassiano Ricardo, em São José dos Campos, SP, foi organizada a entrega formal do retrato do busto do poeta à Academia Brasileira de Letras, um antigo sonho de Da. Lourdes Fonseca Ricardo, sua viúva. Era intenção de Da. Lourdes entregar esse retrato com certa brevidade, pois gostaria de fazê-lo ainda na gestão de Austregésilo de Athayde na ABL. O retrato fora encomendado ao artista joseense José Carlos Queiroz por d. Lourdes através de um amigo comum, Armando Cobra, que fora também amigo do poeta e entusiasta desta homenagem.
Cassiano Ricardo não foi apenas um grande poeta da língua portuguesa, mas também um grande estudioso da cultura e dos problemas brasileiros tendo nos legado uma obra múltipla e multifacetada, onde encontramos não somente o poeta desbravador das novas linguagens do linossígno (a estrofe pela geometria imagístico-visual da composição no seu todo). Em Cassiano Ricardo encontramos, também, uma linguagem prosística viva e saborosa onde se mesclam elementos de oralidade, de ditos coloquiais na língua erudita, de gosto pessoal na seleção e no emprego das palavras, de modulação própria na curva expressiva da frase despojada e séria, seivosamente brasileira, como bem observou Nereu Correia.
Num breve retorno a Cassiano Ricardo não podemos esquecer, principalmente em tempos em que se tenta sensibilizar os que podem e os que devem no sentido de que não se perca a memória nacional, conforme afirmou o ilustre professor Hugo Benatti Jr. em artigo publicado na imprensa joseense à época da realização da X Semana Cassiano Ricardo.
José Carlos Queiroz (de termo branco), na seção da ABL |
A Semana Cassiano Ricardo foi uma forma encontrada pela cidade de São José dos Campos de homenagear um de seus filhos mais ilustres. Em suas memórias é o poeta que narra o surgimento dessa homenagem: Hoje, em 1970, as palavras que pronunciei em 1967, ainda repercutem em mim, pois representam meu abraço de filho à mãe-terra. São José, cidade de minha infância me leva sempre a um exercício de introspecção e sinceridade, cheio de reminiscências inapagáveis. No núcleo formador da Semana Cassiano Ricardo, nos idos de 1967, encontramos nomes como Roberto Wagner de Almeida, Olney Borges Pinto de Souza, Altino Bondesan, Pedro Paulo Teixeira Pinto, José Madureira Lebrão, Mário Ottoboni, Hélio Pinto Ferreira, além de outros ligados à vida social, política e administrativa de São José dos Campos.
Para Hugo Benatti Júnior, o passado se revela no presente e uma das formas de se conservar uma certa identidade nacional, regional ou local, expressa-se na tentativa de preservar os marcos identificadores de uma época. Cassiano Ricardo registrou em modo próprio, como poeta, historiador e pesquisador, toda uma fase da vida nacional. Também incluiu a sua terra de nascimento. A história de São José dos Campos necessariamente mencionará a vida e a obra do festejado poeta.
“A mais importante homenagem, porém, a que mais de perto me toca, é uma, de caráter permanente, A Semana Cassiano Ricardo, que me é atribuída todos os anos, em minha cidade natal, São José dos Campos.” Viagem no Tempo e no Espaço, 1970 pg. 254.
Mas voltemos ao retrato do poeta e ao artista que o concebeu, José Carlos Queiroz. O retrato, óleo sobre tela, não seria possível sem a interferência do mui nobre Armando Cobra e sua ligação com o poeta e sua esposa já por longa data. Escolhido o artista, a obra foi ganhando corpo até sua finalização sendo formalmente entregue às mãos de dona Lourdes Fonseca Ricardo numa concorrida seção da Câmara Municipal de São José dos Campos, na presença de diversos amigos e entusiastas do poeta Cassiano Ricardo.
À época, Cassiano Ricardo já havia falecido, mas as homenagens e recordações à sua memória sempre continuaram como antes. É de se consignar aqui a alocução feita pelo então deputado Israel Dias Novais na tribuna da Assembleia Legislativa de São Paulo pelo seu 70º ano de vida e cinquentenário poético: “Tenho um velho apreço ao poeta e um crescente e irremediável fascínio pela sua obra. Perco-me, não raro, no mundo de uma poesia que às vezes escurece e mergulha no mistério, quando sabe tão constantemente ser clara e luminosa, dando a falsa impressão de facilidade”.
E, em mãos de Lourdes Fonseca Ricardo o quadro foi até a Academia Brasileira de Letras para, numa seção memorável, ser entregue àquela instituição. A comitiva partiu de São José dos Campos em ônibus fretado pela prefeitura municipal sob a direção de Fernando José de Paula Fagundes dos Santos, então o chefe da Seção de Cultura. Além de José Carlos Queiroz, sua esposa e seu pai, integraram a comitiva Olney Borges Pinto de Souza, Brasílio Duarte, Hélio Pinto Ferreira, Geraldo Fernandes Sobreiro, Maria Cristina Pires, entre outros.
Em primeiro plano, Lourdes Fonseca Ricardo, ao lado dos imortais Francisco de Assis Barbosa,Josué Montello e Raimundo Magalhães Jr. |
Na Academia fomos diligentemente recebidos pelo acadêmico Francisco de Assis Barbosa numa seção onde estavam presentes, além do presidente Austregésilo de Athayde, da. Lourdes Fonseca Ricardo, os acadêmicos José Cândido de Carvalho, Odylo Costa filho, Josué Montello, Aurélio Buarque de Hollanda, Raimundo Magalhães Júnior, Vianna Moog, entre outros. O ato de entrega do quadro do artista joseense José Carlos Queiroz revestiu-se de absoluta singeleza e a obra passou definitivamente ao acervo da Academia Brasileira de Letras.
A homenagem foi à altura do inesgotável Cassiano Ricardo que, rompendo-se do parnasianismo inicial emergiu ao modernismo nos Borrões de Verde e Amarelo para, num crescente inesgotável atingir seu pináculo com Jeremias sem Chorar e ao máximo de sua obra poética com “Os Sobreviventes”.
No corpo desse texto foram utilizadas para consulta as seguintes obras:
Viagem no Tempo e no Espaço, de Cassiano Ricardo
Jeremias sem-chorar, de Cassiano Ricardo
Cassiano Ricardo: o prosador e o poeta, de Nereu Correia
Habituei-me ao improviso, de Israel Dias Novaes
O inesgotável Cassiano, artigo de Hugo Benatti Jr
Um breve retorno a Cassiano, artigo de Hugo Benatti Jr
Em memória de Fernando José de Paula Fagundes dos Santos e Armando Cobra
Texto de Arnaldo Chieus
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