ISC - Idealizado em 1993, o Instituto Salerno-Chieus nasceu como organismo auxiliar do Colégio Dominique, instituição particular de ensino fundada em 1978, em Ubatuba - SP. Integrado ao espaço físico da escola, o ISC tem a tarefa de estimular a estruturação de diversos núcleos de fomento cultural e formação profissional, atuando como uma dinâmica incubadora de empreendimentos. O Secretário Executivo do ISC é o jornalista e ex-prefeito de Ubatuba Celso Teixeira Leite.
O Núcleo de Documentação Luiz Ernesto Kawall (Doc-LEK), coordenado pelo professor Arnaldo Chieus, organiza os documentos selecionados nos diversos núcleos do Instituto Salerno-Chieus (ISC). Seu objetivo é arquivar este patrimônio (fotos, vídeos, áudios, textos, desenhos, mapas), digitalizá-los e disponibilizá-los a estudantes, pesquisadores e visitantes. O Doc-LEK divulga, também, as ações do Colégio Dominique.

LEK - Luiz Ernesto Machado Kawall, jornalista e crítico de artes, é ativo colaborador do Instituto Salerno-Chieus (ISC) e do Colégio Dominique. É um dos fundadores do Museu da Imagem e do Som de São Paulo e do Museu Caiçara de Ubatuba.

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

A AVIAÇÃO EM LORENA

A AVIAÇÃO EM LORENA – Traços Históricos - uma resenha



  Por Arnaldo Chieus*

 
O livro A Aviação em Lorena: Traços históricos, de Cesar Rodrigues, faz uma análise do surgimento da aviação em Lorena, SP, resgatando os traços históricos desde a memorável aventura de Anésia Pinheiro Machado em 1922 quando esta fez um sobrevoo sobre Lorena em seu pioneiro reide aéreo de São Paulo ao Rio de Janeiro, nas comemorações ao Centenário da Independência do Brasil. Por se tratar de um trabalho com vista à contribuição dos registros históricos relativos aos feitos de natureza aeronáutica, o autor optou por dividir a evolução histórica da aviação em Lorena em três fases, a partir da construção da pista de pouso que serviu às tropas paulistas na Revolução Constitucionalista de 1932; a Escola de Pilotagem do Aeroclube e a aviação comercial e, finalmente, o uso do aeródromo para aeronaves que faziam a rota Rio-São Paulo, como a Esquadrilha da Fumaça. Na década de 1930, Lorena, como as demais cidades do Vale do Paraíba, passou a ser região estratégica para as tropas paulistas que lutavam contra as forças federais. Na área que seria futuramente implantado o Horto Florestal foi construída uma pista de pouso, em apoio à Aviação Constitucionalista. 

A Base Aérea e o Canteiro de Mudas 

O Campo de Aviação transformou-se em Base Aérea para as Forças Constitucionalistas e a pista um dos principais pontos de apoio à Aviação, juntamente com Guaratinguetá e Taubaté. Esse campo, criado inicialmente para servir como Canteiro de Mudas, transformou-se no primeiro Campo de Aviação de Lorena, construído por voluntários, em 1932, ao lado da Estrada de Ferro Central do Brasil, sendo um dos principais pontos de apoio às operações de aviões e um dos principais pontos de apoio às operações de aviões no município de Lorena. 
A partir desse evento histórico o autor registra as importantes operações aéreas paulistas realizadas na então chamada pista do Horto Florestal e a mobilização do efetivo para barrar o avanço das tropas federais no Vale do Paraíba e na frente mineira. Finda a Revolução Constitucionalista com a assinatura do armistício, o Campo de Aviação passou a servir às aviações do Exército e da Marinha para a realização de manobras. 
O livro é de uma excelente riqueza no registro da evolução histórica e social da cidade de Lorena resgatando e registrando os mais significativos momentos da aviação e sua importância no cenário histórico de Lorena.

Manobras militares
A situação geográfica de Lorena mostrou seu grande valor estratégico e geopolítico para abrigar as forças militares paulistas para barrar o avanço das tropas federais no Vale do Paraíba e na frente mineira. E o campo de aviação foi um ponto de pouso e decolagem além de camuflar as aeronaves paulistas que ali estacionavam. Dessa forma a contribuição lorenense foi também fator pendular para o fim do conflito e assinatura do armistício pondo fim à Revolução Constitucionalista. 
O campo de aviação continuou em operação e em 1940 contou com um Centro de Operações para servir às manobras militares das aviações do Exército e da Marinha. Por várias ocasiões o local foi escolhido para que nele fossem passadas em revista as tropas pelo presidente da república Getúlio Vargas e seu ministro da guerra general Eurico Gaspar Dutra. 

O Aeroclube de Lorena e a aviação comercial 
Hangar do Aeroclube de Lorena

A grande movimentação de aeronaves e pilotos na cidade de Lorena associada a uma intensa campanha de incentivo à campanha nacional de aviação foi o incremento para mobilizar a fundação de um aeroclube. 
O autor nos traça as principais momentos do aeroclube desde sua fundação com a descrição das principais aeronaves, pilotos e instrutores. Amparado em depoimentos, levantamento de jornais da época e amplo registro fotográfico a trajetória do aeroclube e sua diretoria nos é desenhada num panorama histórico, dando conta de sua importância na região do Vale do Paraíba. 

DC3 Douglas Dakota que operava na rota Rio-Lorena-S. Paulo

O autor também faz em seu relato o importante registro da aviação comercial em Lorena. A empresa aérea TAL – Transportes Aéreos Limitada – entre os anos de 1948 fazia a rota Rio-São-Paulo e a cada dois dias pousava, desembarcava e embarcava passageiros e decolava com duas aeronaves empregadas no percurso. 

A Esquadrilha da Fumaça na rota de Lorena 
O antigo Horto Florestal, hoje Floresta Nacional de Lorena, onde em suas margens surgiu o primeiro campo de aviação é hoje um símbolo na proteção da mata atlântica remanescente. Por diversas ocasiões a Esquadrilha de Demonstrações Aéreas esteve em Lorena fazendo suas demonstrações sobrevoando o Horto Florestal. Laços efetivos e fraternos ligavam os integrantes dos “fumaceiros” com os lorenenses. Shows programados e eventuais aconteciam sempre muito concorridos. Isso ocorreu até 1973 quando o aeródromo viria a ser fechado. 
Grandes pilotos acrobatas visitaram Lorena em diversas oportunidades registrando-se principalmente a passagem de Alberto Bertelli, o primeiro piloto honorário da Esquadrilha da Fumaça e de Arthur Braga, outro mito da acrobacia aérea brasileira. 

Uma trilha na história

Voluntários produzindo os marcos alusivos às visitas dos presidentes Vargas e Dutra ao aeródromo de Lorena

Uma placa num marco histórico da Floresta Nacional de Lorena registra os principais fatos históricos no Campo de Aviação de Lorena. Do antigo hangar restam ruínas. Somente a memória afetiva do autor foi capaz de recompilar esse painel de relatos que resgatam os traços históricos das atividades aéreas em Lorena. Do extinto aeroclube restam apenas as paredes que serviam como quadro para as orientações que os comandantes passavam para as tropas. O tempo passou e aquele menino que brincava de montar avião transformou-se no piloto e controlador de trafego aéreo, jornalista e historiador dos feitos de um tempo onde a cultura aeronáutica estava vivamente presente. O livro é um relato que registra a trajetória da aviação em Lorena e sua importância no contexto histórico. Das antigas ruínas do aeroclube e seu hangar surgiram uma trilha ecológica e um sítio histórico com os marcos alusivos às visitas dos presidentes Getúlio Vargas e Gaspar Dutra. E a Floresta Nacional que a tudo esteve sempre presente. 

*Arnaldo Chieus é professor, advogado, entusiasta da aviação e membro do Conselho Gestor do Instituto Salerno-Chieus

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